As coisas mais simples tornavam-se-lhe perturbadoras e o faziam sentir-se moralmente fracassado, uma simples tentativa frustrada de intimidade com a mulher, ele julgava uma afronta ao brio de sua masculinidade. Ela deve ter outro homem — dizia Yuri. E procurava refúgio em amores clandestinos com mulheres da Vila Mimosa. A VM assim chamada aquela vila de prostíbulos é o lado feio da Cidade Maravilhosa. E tornou-se conhecida até no exterior — graça ou por desgraça da mania que tem o brasileiro de expor suas mazelas, enquanto outros países escondem as suas. Por sorte, ou azar, nem tudo que é mostrado na TV é visto. E por isso, Morgana e Ravenala não viram as imagens feitas da Vila Mimosa. Nem sabiam que a ex-colega do Marista se tornara prostituta de bordel.
Prostitutas não confiam nem na própria sombra e nem podem. Muitas são as cicatrizes que trazem no corpo e na alma. Não têm histórias escritas em livros e aqueles que escrevem sobre elas, são gigolôs das letras. São traídas, ferem e são feridas. Defendem um relacionamento que não querem ter, mas precisam. Não precisam de homem, precisam do dinheiro dele e do relacionamento que disputam com outras putas: um amor que não recebem e nem dão. Tudo é negócio, a vida, um ócio, monotonia de esperar no apagar da luz, que brilhe sua estrela. Fingem. Apenas fingem que gostam e em paga, recebem dinheiro e fingimento.
Aqueles a quem chamam de meu homem. Não são seus, pertencem às esposas que os maridos deixaram em casa. Nada fica nada sobra na vida da prostituta, nada além do palavroso queimando como fogo a vida chula que levam. E quando envelhece, dorme na rua inalando a creolina que os proprietários derramam sobre as calçadas, para não serem incomodados com a visita noturna dos moradores de rua. É assim no Rio de Janeiro e em muitas cidades pelo Brasil afora.
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Adalberto Lima, trecho de "Estrada sem fim..."
Prostitutas não confiam nem na própria sombra e nem podem. Muitas são as cicatrizes que trazem no corpo e na alma. Não têm histórias escritas em livros e aqueles que escrevem sobre elas, são gigolôs das letras. São traídas, ferem e são feridas. Defendem um relacionamento que não querem ter, mas precisam. Não precisam de homem, precisam do dinheiro dele e do relacionamento que disputam com outras putas: um amor que não recebem e nem dão. Tudo é negócio, a vida, um ócio, monotonia de esperar no apagar da luz, que brilhe sua estrela. Fingem. Apenas fingem que gostam e em paga, recebem dinheiro e fingimento.
Aqueles a quem chamam de meu homem. Não são seus, pertencem às esposas que os maridos deixaram em casa. Nada fica nada sobra na vida da prostituta, nada além do palavroso queimando como fogo a vida chula que levam. E quando envelhece, dorme na rua inalando a creolina que os proprietários derramam sobre as calçadas, para não serem incomodados com a visita noturna dos moradores de rua. É assim no Rio de Janeiro e em muitas cidades pelo Brasil afora.
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Adalberto Lima, trecho de "Estrada sem fim..."