Assim ou ... nem tanto.134
De mão dada contigo
Estou de mão dada contigo. Olhamos para o mesmo lado e, contudo, vemos coisas diferentes. Cada um vê com os seus olhos e nunca com os do outro porque, além do cristalino semelhante temos, diferente e profundo, o espírito, o corpo inteiro cheio das marcas do saber e do caminho. Andei por lugares onde nunca foste e fiquei sem perceber por que estremeces sempre que a noite nos cega. Olhamos e tudo o que sentimos nos aparta em dois mundos quase fechados. Vou no meu barco para o âmago do azul e posso pensar que o barco se fez ave e que, sendo ave, vejo do alto o mar e a terra. Quem vê de muito longe, mata a importância e tudo o que foram medos e dores, acaba preso na palma da mão estendida. Era assim que agarrava a Lua, que abarcava a Praça, que pensava poder amar quem eu quisesse. Depois tinha de sair da imaginação, ampliar o corpo, crescer até pousar na realidade que me nascia feroz de língua e dentes, de palavras podres, de gente que sorria trocista e hostil. E o que era aprazível, ficava escorregadio, resvalavam os pés e as mãos, vinha, tremendo, o tombo. Rasando o chão o céu fica muito longe mas aprendi a levantar-me depressa, a sacudir a sujidade e tentar fazer da rua um caminho mais seguro. Meço a passada, olho o que há para ver e o invisível potencial. Estou aqui, de mão dada contigo e estou do outro lado do mundo à tua espera. Demora o que queiras. Excluí o tempo.