Meu primeiro Brasil.
 
           Uma rua de terra , que rolava a bola dos menores,  quando a chuva permitia, tornando-a em lama escorregadia, que nos fazia andar em tamancos de madeira.
           Uma casa aqui e outra alí, com quintais e poços para encher a caixa d'agua, cerca de pau, e jardim na frente onde as flores nasciam desordenadas ao sabor do tempo.
            A minha primeira morada no Brasil,  lá pelos meus oito anos.  Este lugar se chama Vila Piauí, em São Paulo, próximo ao bairro da Lapa, onde se ía num ônibus fumacento da  "Gato Preto", às margens da Anhanguera.
            Meu irmão e eu íamos ao Grupo Escolar, mesmo não sabendo o idioma, adaptação era assim, no olho do furacão,  mas o meu irmão era do tipo Pit Bull e ninguém se metia com ele. O melhor aluno que já conheci na vida, um gênio no verdadeiro sentido da palavra, pulou do primeiro para o quarto ano, mas de  temperamento difícil e introspectivo, mas nos dávamos bem.
             Havia uma "bruxa" nas proximidades, e a temíamos,  cada vez que surgia na rua, a molecada corria se esconder. Na verdade era uma velha louca, parecida com aquela da Branca de Neve,  de bastão na mão, o que aumentava o pavor.  Certa vez, voltando para casa, com a sacola de compras nas mãos, de cabeça baixa , entretido chutando as pedras da rua, e quando levanto a cabeça, lá estava ela, bem na minha frente, hurrando palavras ininteligíveis de braços levantados, de "vou te pegar , moleque...". Por sorte ela não corria muito, pela idade e pelo saiote pesado, e entrei correndo quintal à dentro , chamando a minha mãe, pois a "bruxa" já havia entrado atrás de mim.
               A minha mãe veio em auxílio, e levantou a vassoura ameaçadoramente, expulsando a mulher do quintal de casa, precisei tomar até água com açucar.
               Não tínhamos cachorro , e nem precisava, os dos vizinhos nos visitavam com frequência , para brincar, comiam alguma coisa , e ficavam tirando um cochilo no alpendre, às vezes até passavam a noite por ali.  A Bolinha me acompanhava até a escola, e um dia entrou na classe comigo, escondida debaixo da carteira, mas o burburinho das crianças a denunciaram, e nós dois tivemos que sair.
                 Me lembro do meu pai nos levando para comprar quatro pratos, quatro garfos ,colheres e alguns copos americanos, daqueles da Nadir Figueiredo, bem simples. Não tínhamos nada , a não ser uns aos outros, e muitas esperanças.
          

 
Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 04/04/2018
Reeditado em 04/04/2018
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