Pôs a melhor roupa, soltou o cabelo, passou maquiagem e ligou para o número recebido. O celular tocou, até cair na caixa postal.  Apressou-se para pegar o metrô e ocupar o primeiro vagão.

O trem chiou a um palmo de distância de seus pés. Lembrou-se da perna presa no vão da plataforma e entrou com cuidado. O primeiro vagão estava cheio de gente vazia, duas velhinhas conversavam em pé, porque as cadeiras reservadas aos idosos estavam ocupadas por jovens, que sorriam zombeteiros. Muitas pessoas penduradas nas barras de ferro  disputavam um lugar para colocar as mãos.

Olhou atentamente. Com certeza, não era ele. Aquele homem não usava terno. Não era, portanto,  o cavalheiro que a ajudara no dia do acidente na plataforma. 

Letreiros do túnel passam em película acelerada. O maquinista puxa as rédeas do cavalo de ferro e aos poucos, a  máquina perde velocidade. É nova estação.
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Adalberto Lima, trecho de "Estrada sem fim..."