Nuvens carregadas de amor, paixão, e medo, levavam seus segredos e as dores do coração. Pobre Ravenala, sentia a juventude passar, como chuva escassa chorada em peneira fina no árido deserto seu coração. Que amor é esse que se entrega até à morte? E dizia à rosa dos ventos que a vida não presta. Que as pessoas são árvores que andam, criaturas artificiais que vivem a mesmice do dormir e acordar. Ou não. A vida é uma tela pintada com estilo e arte, uma paisagem de gente de todas as raças, mulheres de todas as taças à procura de marido. Tudo igual. Todo dia ela ia trabalhar cedo; e retornava cansada à tardinha.
O metrô passava cheio em cada estação: homens de short e camisa regata, outros de terno e gravata, pendurados nas barras do trem como roupas no varal. Ela não pleiteava um herói de pancadaria em teatro de mamulengos. De modo algum, invocaria frei Gaspar de Santo Antônio, mas o próprio Santo Antônio casamenteiro de Pádua, para lhe conseguir um marido. E, por não alimentar sonhos de princesa, queria um casamento simples. Pouca gente à mesa. Poucos convidados e uma banda tocando a ‘Marcha nupcial. ’ Queria casar-se na noite, na rua, no céu, no mar, na lua, ainda que fosse com um vesgo ou um galo-de-campina...Ficava horas a fio na igreja ouvindo o sino:
Dim... dão... Dindão. Dindãodindãodindãodindão.
O coração badala igual sino. Bate o badalo, toca o sino, bate o coração-menino. E no soar do sino, o santo casamenteiro lhe promete um par para o coração.
A cidade, se lhe parecia uma selva de concreto por onde caminha rebanho de ovelhas sem pastor. Gente de todas as raças, mulheres de todas as taças, miúdas e pequenas, trafegam ligeiro em muitas direções. Multidões de veículos deslizam velozes no negro asfalto. Adiante, um assalto põe a vítima em histérica gritaria. Ninguém para. Só espia.
Tudo passa apressado na janela da existência, e já não se tem tempo sequer para um bom-dia ou como vai. A noite cai e guarda em sua sombra a Pedra da Gávea. Ravenala esperava que antes da quinta estação Deus lhe desse um cireneu.
***
Adalberto Lima, fragmento de "Estada sem fim.."
O metrô passava cheio em cada estação: homens de short e camisa regata, outros de terno e gravata, pendurados nas barras do trem como roupas no varal. Ela não pleiteava um herói de pancadaria em teatro de mamulengos. De modo algum, invocaria frei Gaspar de Santo Antônio, mas o próprio Santo Antônio casamenteiro de Pádua, para lhe conseguir um marido. E, por não alimentar sonhos de princesa, queria um casamento simples. Pouca gente à mesa. Poucos convidados e uma banda tocando a ‘Marcha nupcial. ’ Queria casar-se na noite, na rua, no céu, no mar, na lua, ainda que fosse com um vesgo ou um galo-de-campina...Ficava horas a fio na igreja ouvindo o sino:
Dim... dão... Dindão. Dindãodindãodindãodindão.
O coração badala igual sino. Bate o badalo, toca o sino, bate o coração-menino. E no soar do sino, o santo casamenteiro lhe promete um par para o coração.
A cidade, se lhe parecia uma selva de concreto por onde caminha rebanho de ovelhas sem pastor. Gente de todas as raças, mulheres de todas as taças, miúdas e pequenas, trafegam ligeiro em muitas direções. Multidões de veículos deslizam velozes no negro asfalto. Adiante, um assalto põe a vítima em histérica gritaria. Ninguém para. Só espia.
Tudo passa apressado na janela da existência, e já não se tem tempo sequer para um bom-dia ou como vai. A noite cai e guarda em sua sombra a Pedra da Gávea. Ravenala esperava que antes da quinta estação Deus lhe desse um cireneu.
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Adalberto Lima, fragmento de "Estada sem fim.."