Não sabia mentir

     1.  Neste momento, estou relendo "A arte de mentir", livro que reúne cento e tantas crônicas do Acadêmico Cicero Augusto Ribeiro Sandroni - Cicero Sandroni - , ocupante da Cadeira n. 6 da Academia Brasileira de Letras, que tem como patrono o poeta Casimiro de Abreu (1838-1860), filho de Nova Friburgo. 
     2.  Mestre Sandroni nasceu em São Paulo no dia 26 de fevereiro de 1935. É casado com a escritora Laura Constância Austregésilo de Athayde Sandroni, a única filha mulher do pernambucano (de Caruaru) Belarmino Maria Austregésilo de Athayde (1898-1999), o jornalista, poeta, ensaísta e cronista Austregésilo de Athayde.
     3.  As crônicas do escritor Sandroni, que desfilam nesse livro, deixa a gente convencido de que não é preciso escrever muito para dizer tudo. Seus textos são enxutos, pequenos, atuais, precisos e deliciosos. São autênticos; não são mentirosos. A maioria deles, segundo o autor, foram publicados entre os anos 1999 e 2003.
     4.  Costumo não escrever sobre política e sobre políticos. Sobre políticos, a não ser para pôr em destaque o que eles fizeram de bom pelo ou para o eleitor, o que, nos dias de hoje, não é coisa fácil. 
          Prospera, no atual mundo político, mais do que nunca, uma apreciável chusma de aproveitadores, ocupando estranhas siglas e que não estão nem aí na defesa da causa pública. 
          Costumo dizer, que falta no Brasil o político que pode ser reconhecido como um verdadeiro es-ta-dis-ta. 
     5.  Para falar sério, no Brasil do presente, um político exemplar é o que os romanos chamavam de "avis rara"; nos dicionários latinos, "uma pessoa única, incomum, excepcional; no Caldas Aulete, "uma pessoa que raramente aparece, ou difícil de encontrar; pessoa de qualidades ou de raro talento".
     6.  Dito tudo isso, vamos ao que quero chegar, depois de ler a crônica "A arte de mentir", que, certamente, deu nome ao livro do Mestre Sandroni. 
     7.  Nessa crônica ele fala sobre a "mentira política". Frisa que, no Brasil, "políticos de todos os matizes ideológicos têm se dedicado com grande sucesso à arte de mentir..." E faz esta observação, que considero procedente: "Por isso, a política aborrece tanto aos homens de bem..."
     8.  Homens de bem, lembra Sandroni, "a exemplo do escritor latino Juvenal. Convidado para ocupar uma cadeira no Senado romano, respondeu: - Que hei de fazer em Roma? Não sei mentir".  
          Décimo Júnio Juvenal foi poeta e retórico.Nasceu no ano 47 d.C., em Aquino, Itália. Ô, quer dizer que no ano 47 d.C. já existiam senadores mentirosos? Não acredito!
     9.  Mas, segundo Cicero Sandroni, "a mentira acompanha o ser humano desde os tempos bíblicos. Lembram-se do diálogo inaugural do anjo decaído travestido em serpente, com Adão e Eva?
          Portanto - faça-se justiça - a mentira no Senado vem de muito longe. Não é costume implantado nos nossos tempos. Juvenal escreveu no século I da Era Cristã.
     10.  O acadêmico conclui, afirmando que se Juvenal "fosse vivo, e quisesse aprender com rapidez, poderia fazer estágio na política brasileira, e até conseguir um doutorado na arte de mentir".
     11.  Esta e outras crônicas, igualmente irônicas, mordazes, verdadeiras, o leitor encontra no agradável e divertido livro "A arte de mentir", que comprei em janeiro de 2015, e lhe reservo lugar de luxo em uma de minhas cinco estantes.
                          
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 04/04/2018
Reeditado em 04/04/2018
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