Carinho

A tarde estava abafada, com nuvens cinzas dispersas, dependuradas no céu azul fraco, desanimado. Sem forças. Seria o primeiro dia do meu retorno ao Coro da Uel. Meu Deus! Ave Verum, Fascinação, Meninas do rádio, nem me cabia de tanta alegria. Rever as amigas, sair! Respirar gente, música! Foi um grande encontro. Reencontro com a paz! Mas, de repente, a tempestade. Cantávamos Além do arco-íris... Tromba d’água! Será que havia deixado janelas abertas? , foi o que primeiro me ocorreu. E meus vasos de flores? Estariam todos seguros? O mundo desabou em chuva. O Zé, marido da minha amiga Berê, nos esperava. Tivemos que aguardar o temporal se acalmar pra irmos até o carro. No caminho, só água, água e mais água, era o dilúvio Senhor? E nem havíamos construído a arca? O lago Igapó transbordara, e passamos sobre um rio de água. Enfim, chegamos. Atravessei com o pé ainda muito dolorido, outro rio até chegar à portaria do prédio. Fui para dentro devagar, nem podia correr da chuva! Abri a porta preocupada. Tudo fechado, nenhum vaso ao chão. Agradeci a Deus. Mas, o pé de tomatinhos cereja, esguio, frágil, não suportara as rajadas fortes de vento e chuva. Gemia de dor ao chão da floreira. Chorei junto. Esperei passar a chuva. Delicadamente, segurei o caule , fiz uma imobilização, um gesso, com um pedaço de fita crepe, amarrei-o a uma estaca de madeira, uma varinha providencial de orquídea, e pedi a Deus que não o deixasse morrer. Tão cedo para despedir-se do meu jardim... Quantos botõezinhos de flor ainda de olhos fechados, sem ver a luz do dia. Tomatinhos ainda verdes para madurar… e o milagre aconteceu. A vida foi resgatada. A seiva não se perdeu pelo caminho. Apenas uma torção, uma fratura. O carinho tudo cura… tudo faz renascer.

Benvinda Palma