Ciclos

Neste momento de crise em quase todos os campos da vida social lembrei de uma palavra (e conceito) que é pouco falado: ciclos. Me veem a mente, obviamente, uma circunferência com todos os seus significados. Ciclos. Acredito que todos deveriam vivê-lo. Se pensarmos bem, a vida das grandes instituições e/ou naquelas mais tradicionais (a exemplo da família, da religião e da educação) tendem a cumprir este caminho circular. Apesar de muitos pensarem que este caminha é linear parto da premissa contrária. Nascemos, crescemos – e daí ficamos velhos – morremos. Nesse trajetória vamos experienciando uma série de outras fases que nossos avôs e pais passaram. Coisas que funcionam quase que como ‘ritos’, aliás todas as sociedades – assim como as instituições – tem seus ritos de passagem. Até que eu nascesse o que se passou não apenas o ato sexual entre homem e mulher, na concretização de um ciclo biológico. Antes, todos os ritos de enamoramento, antes todas as informações necessárias sobre divisão de papéis sociais, sobre gostos e tipos. Antes, cumprindo-se todos os ciclos da vida social (institucional) até que num processo já esperado, surgisse - novamente – um outro ciclo para me esperar no mundo. Acontece mais ou menos assim com todos – ou pelo menos deveria ser (ha de se considerar neste caso, os outsiders ou mesmo os irresponsáveis – que são muitos!). Depois que nascemos temos toda uma formatação para esta nova criatura. Se os país =forem católicos, a preocupação com o batismo, na vida do Estado Civil, o registro e toda a simbologia da representação social dos nomes de família, ainda no Estado, o cuidado e o controle com doenças. Na medida que vamos crescendo, além das sutilezas dos gostos e preferências dos país, vem a escola e toda uma vida que segue até o momento que repetimos - acreditando que fazemos algo novo – àquele gesto que nossos país fizeram no passado. O enamoramento, os sonhos do futuro e quando pensar, tem diante de si, um novo ciclo, uma nova criatura (por favor, quando falo criatura falo no sentido mais terno, rsss, hoje nada é permitido, dá até medo escrever algo fora do ditatorialmente correto).

Bem! Muita gente pode pensar que isso é uma coisa velha e, por tal as coisas são ruins porque repetimos coisas ruins. Discordo! Os ciclos seguem como algo que se renova, e se renova criando outros ciclos e ampliando-os. As repetições não são apenas rituais em que se coloca todos os sentidos da autoridade e do poder. São gestos de renovação, sem eles a sociedade perde o sentido de ser. Parto desta premissa não para falar só do mundo da vida, mas para reforçar que instituições – independente dos seus fins – tendem a ter a mesma dinâmica. Quando falo penso, por exemplo, em instituições que tem cinquenta, sessenta, cem anos de vida, e observo que seus membros (ou a dinâmica política - em seus projetos e objetivos) ficam pelo menos vinte anos sem tocar em suas paredes. Suas fachas são as mesmas e o que se muda é o que se deixo de ter o uso adequado, afinal, quem ainda usa máquina de escrever, por exemplo? Em geral estas instituições não vivem apenas de ritos, muitas chegam a se ampliarem e o novo não vem como superação do velho, mas como aperfeiçoamento. Estas vivem uma circularidade que se amplia ao londo do tempo e dá vazam a criação de novos modelos.

O exemplo que de acima é bem diferente alguns outros exemplos de instituições, que começam grandes, mas que ao longo do tempo, ao invés de ampliarem seus ciclos, vão diminuindo seus ciclos. Tendem a ver os gestos rituais muito mais como obrigação e símbolo de status do que propriamente como um processo de renovação. Ah! Já ia esquecendo: grandes instituições não tem projetos de curto prazo. Em geral projetos de curto prazo vem de mentes ou muito vaidosas que pretendem reafirmar seu amor próprio, ou daquelas mentes mesquinhas do qual lhe basta as migalhas. Ciclos que se renovam com vigor, seus projetos, suas ideias, estão além do tempo presente. Não é uma história que se conta. É uma história que se vive.

Parece meio sem propósito isto que escrevo. Um devaneio de um intelectual fudido, embora não me vejo assim, mas já ouvi isso com o dedo na cara e quando lembro da cena a única coisa que me vem a mente é nestes ciclos, nas paredes das instituições que me formaram. Estas paredes são centenárias, no qual não se conta história, se vive histórias. Já do outro – jovem, bonito, que esbanja seu dinheiro e popularidade – são daquelas instituições que se conta história. Você conta a história porque de algum modo, você que se justificar – aliás essa ‘história’ não é a História (com H maiúsculo) é Istória (com ‘i’). Como se diz no interior: é a conversa do trancoso, mentiro.

Portanto, o verdadeiro do ciclos que se vivem é a renovação, da vida que segue, do mundo que cria novas possibilidades. Dos caminhos das grandes instituições que constroem paredes sólidas, diferentes daquelas que vivem a cada semana a fazer um buraco novo, porque simplesmente, não sabem onde por o vazio de suas ideias. Para estas o mundo é um ciclo que se fecha até um ponto final.

Jorge Alexandro Barbosa
Enviado por Jorge Alexandro Barbosa em 02/04/2018
Reeditado em 02/04/2018
Código do texto: T6297210
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