A TOALHA MOLHADA E O CAFÉ
- Amor, a toalha. - Cobrou ela pacientemente.
- Desculpe querida já vou recolher. - Assim atendeu ele.
Percebia-se a felicidade nos olhos do jovem casal que unira-se rescentemente. A vida a dois era o desafio que ele se propunham vencer quando fizeram os votos matrimoniais. Na verdade, para ambos, não se tratava de um desafio, pois o amor era forte o suficiente para garantir que tão pequenas coisas pudessem abalar o relacionamento dos apaixonados.
- Amor, a toalha. – Cobrou ela mais uma vez.
- Já vou querida. – E retirou a toalha molhada de cima da cama.
Naquele dia o relógio despertou um pouco mais tarde. Na verdade, tinha sido ela que havia esquecido de colocá-lo para funcionar. Atrasados, sem tomar café, apressaram-se para que não chegassem atrasados nos seus compromissos diários. Por mais que tivessem corrido, não foi o suficiente para evitar a chegada tardia e a cobrança mal humorada do chefe do jovem.
- A toalha na cama. - Lembrou ela.
- Recolhe pra mim. - Pediu ele.
O dia amanheceu bem. O relógio despertou na hora certa. O café à mesa, as chícaras, os talheres, mas o açúcar? Esquecera ela de comprar quando mais cedo saiu do serviço. Mais uma vez ele saiu sem tomar café, pois o paladar não aceitava o gosto amargo da bebida quente que tanto necessitava pela manhã.
- Tira a toalha molhada da cama. – Gritou ela enraivecida
- Retira você. Ponderou ele sem atender.
Naquela manhã, apesar do estranhamento, sentaram-se à mesa para o apetitoso café matinal. O gosto já não era o mesmo, talvez a marca não fosse a de sua preferência. A chícara cheia deixada na pia prenunciava o mal dia que ele teria.
Os dias passaram e nada mudou. A toalha molhada e o café mal tomado foram repetidos todos os dias. As doces palavras contendas viraram, até que um dia tudo acabou. Não teve açúcar, não teve café. Não teve toalha em cima da cama, não teve grito, não teve recusa. Somente a solidão.
Foram muitas toalhas e muitos cafés. Um secou o coração e o outro esfriou a alma.