ANTÔNIO (genial) AZEVEDO
ANTÔNIO (genial) AZEVEDO
"Se você não quer ser esquecido
quando morrer escreva coisas que
valham a pena ler ou faça coisas
que valham a pena escrever".
BENJAMIM FRANKLIN
"E é esse povo / que desce de cada
Morro / sem pedir nenhum socorro /
(...) que constrói o Carnaval / com
sangue, suor e tal... / 'inda dizem
que não presta"! (trecho de samba)
"NATO" AZEVEDO - 2017
Se tanto eu quanto meu irmão gêmeo somarmos nosso tempo de convivência com meu pai (depois dos 20 anos de idade) dá muito mal semana e meia. Já com meu irmão mais velho Antônio -- num período de 40 anos -- talvez chegue a 1 semana... mesmo conosco vivendo no Pará a partir de 1984 pouco nos víamos, sequer frequentávamos sua casa. Morando num sítio longínquo por 2 anos e meio, êle vinha nos visitar em alguns sábados à tarde e voltava a Belém -- a 110 km de distância -- pouco depois. Em 1987 viemos para Belém (nosso bairro era parte da Capital até 1995) e nem assim os laços familiares se estreitaram. Por ovlta de 1992 trabalhei numa empresa dele, mas pouca coisa mudou.
Os AZEVEDO quase têm por "tradição" essa vivência "de cada um por si e Deus por todos" e me parece que meus sobrinhos -- filhos do irmão mais velho, ACM -- vão pelo mesmo "caminho". Antônio Carlos só "adotou" o M de Moraes, da mãe, lá pelos anos 90, com ela morando no Pará... antes era Antunes, da esposa e, salvo engano, também da "Fafá de Belém" que, aliás, é/foi madrinha de 1 dos seus 3 filhos. (Agora, já nem sei quantos são... com a chegada da Internet foram "brotando" descendentes em vários lugares, até na Argentina.)
Meu tio CINCINATO FIGUE(i)REDO (sem I ou com, não sei ao certo) foi um marco na família entre os anos 40 e 70, caixeiro-viajante conceituado e cozinheiro "de mão-cheia", arraigado em Rio Negro, no extremo sul do Paraná. "Arrancados do Morro" aos 6, 7 anos por meu pai, foram os tios que nos criaram, entre 1959 e 67/68. Quanto ao Antônio Carlos, pouco sei... andou cursando o Colégio Militar, em Curitiba eu acho e talvez tenha vivido algum tempo com tia Anita e tio "Nato".
Meu pai só gostava de 2 coisas: trabalhar e dirigir caminhão e, mulherengo crônico, talvez gostasse das inúmeras senhoras que cortejou ao longo de seus 97 dezembros. Na única vez que dona Apolônia esteve nos visitando no Paraná (1965?) ela arrumou uma confusão dos diabos por ciúme, pois o velho "xavecava" uma mulata sestrosa na casa da direita, dona Anália e "arrastava asas" para outra na esquerda, de fino trato, meio oriental e filha da dona Nadir.
"Seu" JOÃO PALMAS (ou Palma.. começo a achar que êle "enfiou" esse S no sobrenome, como o "MARIA" de nossa mãe, que consta em nossas certidões) AZEVEDO amou verdadeiramente creio que só o caminhão, não parece ter desejado conviver em família, tanto que preferiu morar sozinho no apartamento do Catete, nem a esposa quiz consigo ! De volta ao Morro em 1968/69 -- o Serviço Militar era OBRIGATÓRIO no Estado de origem de cada jovem -- "seu" João apareceu 2 ou 3 vezes em mais de 10 anos, ficando 20 minutos e deixando algum dinheiro. Como só surgia quando a situação apertava, é possível que "dona Maria" tivesse algum contato com êle. Por volta de 1973 levou Antônio consigo, a "salvação" do mano, pois "o tempo esquentou" no Morro e êle corria risco de "sumir", "levar téco", "apagar".
Em Minas começa a nova vida de A. Carlos, passando por uma cidadezinha de Goiás e findando em Belém, onde mostrou todo seu talento, capacidade empresarial e tino comercial. Foi disputado por grandes empresas do setor elétrico (Endicon, Sotel) e, adiante, criou seu próprio negócio, infelizmente com "ligações políticas" que o arruinaram.
Quero falar do irmão que conheci (entre 1969/73), no pouco tempo que estivemos juntos, numa família de "silenciosos" que viviam apenas para seus problemas e objetivos. Minha mãe só trabalhava, saía às 6,30 hs, 7 horas e voltava às 10, 11 da noite... foi assim por quase 40 anos ! Morreu sem aposentadoria nesse país injusto, jamais lhe assinaram Carteira, embora tivesse até título eleitoral sem nunca ter tido certidão de nascimento. Antônio "ganhou no grito" -- num Morro "cheio de donos", pouca gente sabe disso ! -- o direito a ampliar nosso barraco, casinhola paupérrima de 2,5 x 5 metros, tão baixa que êle tinha que inclinar-se para entrar.
Trouxe nas costas tábuas não sei de onde e fez um baita barraco de 6 ou 7 metros de testada, único cimentado. Quando trabalhou numa pizzaria chique de Ipanema -- "La Roma", e eu nos Correios bem em frente, em 1970 -- nos acordava de madrugada com dezenas de salgadinhos magníficos. Vendedor espetacular, de lábia irresistível, conseguia vender vestidos de couro no Morro inteiro, num Rio de 40 graus de calor. Fazíamos sandálias e bolsas, tudo vendido por êle... gênio comercial sem igual ! Virou gerente de Mecânica "no pé do Morro"... me levou pra cuidar do estoque e contabilidade, meu primeiro "salário" na terra onde nasci.
Fez de tudo um pouco mas as noites na boêmia prejudicaram sua saúde, esteve bastante doente nessa época. Naqueles tempos a "malandragem" trabalhava e era curioso ver o pessoal da "manga rosa" de óculos escuros, preocupados em "não dar bandeira". Os gêmeos, criados em colégio de freiras, "condenavam" aquela vida, mas acabamos "herdando" o apelido jocoso do mano mais velho... "de irmãos do LEITEIRO" a "Leiteiro(s)", que eu detestava. Passei a viver "lá embaixo", a dormir em casa de amigos no Bairro Peixoto só por desprezar o Morro no qual nasci e o peso que me era viver nele. Saí de lá mas o Morro continua em mim, mais forte do que nunca e influenciando minhas músicas e poesias.
Sinto apenas não saber se tanto meu pai quanto esse genial irmão mais velho me leram algum dia. Quando vejo Sílvio Santos lembro do Antônio, com bigode ou sem... ambos têm o mesmo humor, agilidade mental, presença de espírito, um sarcasmo espontâneo e extrema simpatia. ADEUS, mano, nos veremos em breve !
"NATO" AZEVEDO (Ananindeua, PA, 29/março 2018)
OBS: "in memoriam" de ANTÔNIO CARLOS (Moraes/Antunes) AZEVEDO, 24/24/dez.1947 a 27/mar. 2018.
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ADENDO de meu irmão RENATO P. AZEVEDO:
Quando foi que nosso irmão Antônio entrou na nossa família nunca vou saber, mas ainda me lembro de estar exposto feito "avis rara" num Shopping enquanto êle construía nosso barraco que tinha desabado por volta de 1966. Meu primeiro emprego foi com êle e quando o acompanhava nas rodas de carteado usava o seu apelido, com o acréscimo do II... "Leiteiro !!" !
Tive a felicidade de passar um Natal inteiro com êle na casa dos tios, no Paraná, por volta de 1980, aonde me mostrou como responder a uma "cantada" grosseiramente rejeitada:
-- "Tão bonita e tão mal educada"!
Com a facilidade com que fazia amizades, digo sem medo:
-- "Foi recebido com alegria lá em cima" !
RENATO P. AZEVEDO (em 12/abril 2018)