A paixão nacional sobre os olhares da imprensa
Difícil é entender as pessoas, principalmente quando se trata de temáticas como futebol, política e religião. É gigante o fanatismo com que os indivíduos se relacionam com essas áreas. Deixando de lado essas últimas duas encrencas, chama- me a atenção o futebol. O país do futebol, como é conhecido o Brasil, que, aliás, é uma das poucas formas com que o país se apresenta para o mundo, não consegue se quer gerir com sucesso essa paixão incomum. Por aqui, quando se trata de clássicos, as torcidas dos respectivos times não podem ir ao estádio, pois, a justiça desportiva, em decorrência das brigas que ocorreram, determinou torcida única para a maioria dos grandes clássicos. Nos lugares onde há educação, um povo civilizado, o dever da justiça deve ser o de punir os arruaceiros, colocar atrás das grades aqueles que tumultuam uma festa tão linda e apaixonante. Mas por estas bandas do mundo, melhor proibir uma torcida inteira de ir ao estádio, a investigar e punir os responsáveis pelas arruaças. Não para por aí as loucuras do futebol no Brasil. Um jogo de futebol, a meu ver, deve ser tratado pela impressa como um evento festivo, pois futebol é alegria. Os envolvidos que se enfrentam em campo devem ser chamados, pela impressa, de adversários, numa tentativa de diminuir o foco de atrito entre as torcidas e até mesmo entre os jogadores que, infelizmente, não têm formação psicológica nenhuma para atuar diante de milhões de olhares. Geralmente, ouço os apresentadores e repórteres se referindo aos clássicos do futebol nacional como rivais. Alguns repórteres ainda têm a infelicidade de dizer que o time A abateu o time B. O time C foi atropelado pelo time E. Trata-se de um jogo de futebol ou de uma guerra? Outra coisa que me intriga e me faz pensar é o fanatismo descabido com que muitos torcedores demonstram seu imenso amor pelo clube. A qualquer hora do dia, seja qual for o dia, lá estão eles, prontos para soltar o grito e a emoção por um amor inexplicavelmente dominador. Nos clássicos, geralmente o público varia de 35 a 60 mil torcedores, dependendo da capacidade do estádio. Não são apenas torcedores, são defensores terríveis que a qualquer ato de desaprovação acerca do seu time, partem para cima, seja quem for a vítima. São tão parte do time que se os jogadores demonstram falta de vontade para com o time, esses fanáticos imprimem ameaças ou mesmo invadem o campo ou a sede do time. Como eu gostaria de ver toda essa energia dirigida também às questões outras que envolvem nosso país, como as questões sociais, a saúde, a segurança e, principalmente, a corrupção. Também gosto muito de futebol, tenho meu time do coração, mas ele não paga minhas contas e não ajuda a resolver meus problemas. Aliás, meu time nem sabe que eu existo. Prefiro valorizar as coisas que me enriquece enquanto ser humano.