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O “Adeus” a um amigo virtual II
O “Adeus” a um amigo virtual II
Meu primeiro texto no Recanto das Letras foi: O "Adeus" a um amigo virtual. O fiz em homenagem a um amigo muito querido que morreu seis meses após tomar posse como juiz. Uma dor que tive que superar escrevendo.
Nesses últimos dias tive que ser o suporte - o ombro amigo e de mãe- para o meu filho de onze anos de idade, enquanto suas lágrimas desciam e sua voz não conseguia exprimir a dor em seu coração pela perda de um amigo virtual.
Para quem não sabe, essa semana morreu o Youtuber Crowley , um garoto de 15 anos de idade, que assim como meu filho, tinha um canal no You Tube falando sobre um jogo chamado Minecraft. Ele morreu de “Mal Súbito” logo após uma aula de educação física.
Pela repercussão da notícia pude notar o poder das redes sociais. Em minutos meu celular (a conta do meu filho ainda é vinculada a minha) começou a “chover” de mensagens de outros garotos expressando sua dor pela morte do amigo; alguns gravaram vídeos chorando emocionados, para eles era inacreditável o que estava acontecendo, sentiam-se perdidos. Naquele momento, o mundo “real” e o “virtual” se unificaram. Muitos deles nunca tinham sentindo o que era perder alguém e, de repente, eles estavam ali, fora do mundo protegido dos “games”, tendo que encarar a vida como ela é.
Foi triste e comovente! Como mãe, tenho a preocupação constante de que meu filho, talvez, não esteja vivendo plenamente a infância como deveria, contudo, esse episódio mostrou-me que posso estar enganada e que essas relações virtuais, esse “mundo” deles, também é vida, pois vi sentimento verdadeiro entre eles, mesmo sem nunca terem se visto frente a frente. Notei que, apesar do “faz de conta” da internet, aquele mundo é real para eles e que não perderam a essência do “viver”, no fundo são apenas crianças e adolescentes querendo “colo”. Foi o choro mais genuíno e verdadeiro que presenciei nos últimos tempos.
Lembrei-me de mim mesma, chorei pela morte de Cazuza, Renato Russo e Fred Mercury, e mais ainda, com a trágica morte dos Mamonas Assassinas, e agora, chorei por esse garoto que nem conhecia, nunca o tinha visto num vídeo, mas, chorei pelo meu filho, por sua mãe e por tudo que deixou de viver partindo tão cedo!
Se pudesse teria tirado a dor que meu filho sentia naquele momento, porém, a natureza é sábia ao não dar esse poder às mães ou a raça humana seria extinta, pois as pessoas são moldadas para a vida enfrentando as tempestades que surgem, se refazendo após os conflitos e se levantando a cada queda. E assim, as gerações vão seguindo em frente, cada qual com as aflições do seu tempo e modo de encarar a vida, e, enquanto ainda tivermos a capacidade de chorar a morte do nosso semelhante, o essencial para nos caracterizar como “humanos” estará presente.