Conexão
Tamanha era a delicadeza dela pensando nele que ele nem sentia a mão dela tocando o rosto dele em sonho. Espirrou e jurou tê-lo acordado em casa. Mandou mensagem.
— Acordado?
Ele não respondeu, provavelmente dormia. Ela, inquieta, sentou-se na cama e ensaiou um assobio. Mandou mais uma mensagem.
— Ainda dormindo?
Nenhuma resposta. Como era possível que ele não havia acordado com a gigante conexão que existia entre os dois? Não havia nem lavado o rosto, mas logo se jogou numa teimosia de fazer barulho com tudo que achava pela frente para ver se ele saia do sono profundo em que havia se metido. Cansada, pôs sandálias e um vestido no corpo. Saiu de madrugada, caminhando pelas ruas vazias. Cruzou duas esquinas e deu na casa dele, atirou-lhe uma pedra na janela. Nada. Assobiou. Nada. Gritou-lhe o nome e nada. Será que havia morrido?
Preocupada, andava de um lado ao outro estralando os dedos suados do verão e salgados do banho de praia mais cedo. Não tinha escolha, subiu pela escada de incêndio, tremendo de medo. Cada passo parecia um espinho atravessando seu peito. Chegou na varanda com um ou dois arranhões nos braços nus e pôs a cara na janela. Ele dormia tranquilo com a amante. Assustada, deu dois passos para trás e trombou no parapeito enferrujado da varanda, que de súbito arrebentou. O baque alto acordou o namorado.