Não me amem!

Às vezes não adianta mais lutar. Às vezes estar conformado é a melhor posição a tomar. Temos que aprender a reconhecer que há coisas que merecemos perder, por serem apenas maltratadas quando em nossas mãos estão. Se amamos, devemos deixar livre. Quem ama, liberta. Existem borrados que nenhum perdão apaga. Estragamos a folha, resta-nos aprender a viver com isso.

Nem sempre é decepção. Há que aprender a não se deixar ferir por qualquer mal. Por vezes é só aprendizagem. Por vezes é só uma chamada de atenção. Às vezes a vida é tão leve que nos livra de pessoas que não iriam somar em nada, mas de tanta ingenuidade que conservamos nas nossas cabeças tolas, pomo-nos apenas a pensar na perda. Há perdas que são um ganho, e hoje, hoje eu só quero dizer: "bem-aventuradas são as pessoas que comigo não podem mais estar, pois não têm a menor impressão do que teriam que enfrentar".

Nunca amei, nunca estive apaixonado, digo com raiva. E se alguma vez já estive, então não sei, pois não me lembro e acredito ter sido tudo capricho, paixões da adolescência, curiosidades da juventude que hoje ferem a chegada da maioridade. Como explicar tudo isso? Só posso dizer que agora tenho um enorme fetiche por estar sozinho. Acima de todas as atracções, de todos os sentimentos, impera em mim um gigantesco pavor por relacionamentos.

Por não saber demonstrar o que sinto, não acreditam no meu apreço pelas pessoas. Digo que nunca amei porque o conceito de amor que possuo vai de encontro com o da maioria, quiçá do mundo inteiro. As pessoas procuram por perfeccionismo, exigem de outrem o que não podem dar, repontam sem antes escutar e julgam sem nada poderem provar. Mas isso não quer dizer que relações são dispensáveis, porque apesar de tudo, elas sempre valem a pena. Só temos é que levar em conta a questão "futuro". Já parou para pensar que talvez seja essa mania de viver apenas o presente, cagar para a posteridade, que tens vivido momentos obscuros?

É hora de comprometer-se a pensar no depois. Felizmente vivemos numa sociedade onde temos todo tempo do mundo para conhecermos os nossos parceiros, mas ainda assim erramos. É estúpido achar que basta o amor para a relação não morrer. E se amar quem não gosta do que faz? E se amar quem não acredita nas mesmas coisas do que tu? E se amar alguém que é tão igual a ti que até isso enjoa? Não é muito uma questão de escolhas excessivas, mas de escolhas inteligentes. Amor que é amor não irrita, não causa acefalias nem lhe faz sentir-se condenado. Hoje eu digo que as mulheres com quem não pude estender uma relação são muito mais felizes. Sou difícil, sei disso, e é mesmo por saber disso que peço sempre que se afastem. Não me interpretem mal, mas a verdade mesmo é que não sei fazer ninguém feliz.

Prefiro andar sozinho pela cidade, pelos quimbos e banhar às chuvas, sentir os grãos de areia entre os dedos, o toque molhado da água marítima e o cobertor que é o céu num sono diurno. Todos merecemos alguém, mas há quem já tenha perdido essa pessoa.

Claro que talvez a minha deusa esteja por aí, extinta algures e pronta para vivermos juntos, esquisitos para sempre, mas enquanto isso, não me amem, não se apaixonem por mim. Apenas sejam felizes assim. Ainda existem bons rapazes por aí, homens de verdade, porque contra todos os prismas, eu não o sou.