DESEJEI SER DEUS
Técnico censitário do IBGE, no censo demográfico de 1991, saí à rua em auxílio a um dos meus recenseadores, que encontrava dificuldades para entrevistar moradores de um cortiço, na Vila Inglesa, em São Paulo.
Na entrada do beco, de entre as ruínas de um prédio demolido, montes de lixo e gordas ratazanas, emerge um garotinho de talvez sete anos, magrinho, descalço, pele encardida, vestido em trapos e com um sorriso de dentinhos em cacos, mas que ainda assim sustentava a beleza (mesmo triste) de quem, inocente, não sacou o tamanho e o peso da crueldade humana.
Diante de tal quadro, não desejei ser prefeito, nem governador, nem presidente. Naquele momento, eu, agnóstico, desejei ser Deus!