- Chateações -
Uma crônica publicada em meu blog "Expressões", em 2017
Uma crônica publicada em meu blog "Expressões", em 2017
Às vezes me surgem chateações. Não sei de onde elas vêm. Parece que as coisas ficam amarradas, ou então dá a impressão de que cada passo é difícil, como se os pés estivessem presos à lama movediça que fizesse de cada um deles, um esforço e um sacrifício. Nada dá certo. As portas estão fechadas.
Vou lá para fora. Há um gramado verde para deitar e olhar as copas das árvores. Há dois cães ávidos por brincadeiras e afagos. Há tantos passarinhos cantando nas árvores, esperando serem alimentados. Fecho os olhos e presto atenção aos ruídos do dia: lá longe, alguém canta.O motor de um carro. O vento nas folhas da mata em frente. Cães latindo em algum lugar. Um rádio ligado. Vida.
Vida.
Às vezes, as respostas que esperamos não chegam, não acontecem. É sempre tão difícil aguardar o tempo das coisas! Para algumas, o tempo parece voar, enquanto para outras, ele se arrasta languidamente... por isso eu chego a pensar que não existe um tempo, mas vários. Há tantas coisas no ar, esperando para acontecer! Elas me olham, enfileiradas, aguardando algum sinal que eu não entendo...
Mas lá fora, os olhos fechados, os cães aconchegados a mim, o calor do sol do inverno me deixa mais tranquila. Tudo dá certo sempre. Mesmo quando eu achei que tudo tinha dado errado, a única coisa que aconteceu é que as coisas aconteceram como eram para acontecer, e não como eu queria. E depois das lágrimas secas, eu vi que tudo continuava, e para frente... porque vida não acata estagnação. As coisas podem demorar, às vezes, mas elas sempre acontecem, se a gente bater e esperar um pouco até que as portas se abram. Talvez o tempo esteja caminhando muito devagar, mas ele está caminhando. Ele ouviu as batidas. Se resolver não abrir, é porque não era para ser.