Medo ou perigo: o que nos impede de sairmos da caverna?
Como seríamos se nossa curiosidade não fosse aguçada? Mas o questionamento a ser feito na verdade é outro. Como é a vida de uma pessoa ou sociedade que têm seu senso de aventura podado? A resposta a essa indagação meu caro leitor, nós sabemos bem. O medo pode colocar toda uma comunidade em estado de inércia, de modo que outra comunidade ou indivíduo possa se beneficiar dessa passividade.
O medo é um fenômeno abstrato criado para limitar os passos dos indivíduos. De fato, ele não existe, apenas povoa as mentes das pessoas de pouca fé. Por muito tempo, vários povos foram controlados e comandas devido à formação para temer o novo. Platão, através do mito da caverna, muito nos falou acerca dessa poderosa força que age dentro das mentes das pessoas e muito bem utilizada pelos conhecedores desse poder. São muitas as entidades que se encarregam de alfabetizar os indivíduos para esse fim. Algumas o fazem de má fé, com objetivos definidos: controlar, impedir, impor, limitar... Outras desempenham esse papel sem a devida intenção, uma vez que entendem ser para o benefício individual ou coletivo essa não aventura, essa apatia e falta de curiosidade. As famílias, em alguns casos, colaboram para a formação de indivíduos altamente medrosos através da super proteção dos pais aos filhos. As igrejas, por outro lado, intencionalmente desempenham um papel fundamental nessa luta para manter o povo sobre seu controle. Louis Althusser já nos falara a respeito dos Aparelhos Ideológicos de Estado. São mecanismos utilizados pelo governo para controlar seu povo. As leis que regem o país, as polícias, as escolas, são exemplos de órgãos que disseminam o medo nas mentes e corações das pessoas. Infelizmente, muitos acabam acreditando mesmo na existência dessa entidade abstrata. Um povo controlado pelo medo é um povo pouco criativo, pouco curioso, obediente, passivo e covarde. Acredita-se em tudo que é propagado pelas autoridades, pela mídia. Em se falando de mídia, esta é hoje o carro chefe no processo de amedrontamento dos indivíduos. As informações de impedimento chegam rápidas às mentes controladas, replicam-se, propagam-se e de repente, como em uma teia de aranha, todo um grupo de pessoas está presa, controlada, mãos atadas, incapazes de qualquer reação.
O mesmo não se pode falar do perigo. Este é mesmo uma realidade, pode levar à morte ou a consequências sérias quando não devidamente respeitado. A palavra certa é atenção quando se tratar de perigo. Se algo é perigoso, então se deve ter muita atenção para que nada dê errado. Todavia, quando, intencionalmente, o medo veste a roupa do perigo e ambos se tornam sinônimos, a sociedade se torna frágil, dominada. É uma estratégia bem utilizada há séculos para a propagação da corrupção, da prostituição, do machismo, do racismo e preconceito, da ordem estabelecida entre as classes sociais, homofobia, além de outras ordens vigentes.
Para não sermos controlados pelo medo ou confundi-lo com o perigo, precisamos partir para a guerra. As armas mais poderosas nessa batalha são a leitura, a pesquisa e a curiosidade. Não podemos nos deixar controlar pelas igrejas hipócritas, pelas mídias tendenciosas, pela educação podadora das possíveis mentes pensantes. Os monstros que tanto amedrontam são apenas sombras, podem sair das cavernas, há vida cá fora.