Ramos
Quando criança, morava na roça, e esses dias de quaresma, de sol apagado, silenciosos, de ar lúgubre, eram levados muito a sério pelos fiéis. Na semana q antecedia o domingo de Ramos , homens e mulheres se reuniam para trançar as folhas enormes dos coqueiros. Um trabalho que demandava habilidade, talento e , sobretudo, fé. Eu ficava horas a admirar o trabalho artesanal deles. Minha mãe , mãos de fada, participava de tudo . Meu pai corria no canavial para colher cana, descasca-las e oferta-las aos amigos que vinham. O violão, que em outros tempos era usado para dar alegria ao pessoal, era coberto com um manto preto e ficava atrás da porta durante os quarenta dias da quaresma. . Um sacrifício dos maiores para quem - religiosamente- todos os dias, após a luta com a terra roxa, o sol e o café, alegrava nossos corações com seus dedihados, e as mais belas canções de Dilermando Reis... Então, aproveitavam para rezar o terço de nossa Senhora. Não havia fofoca e tão pouco mimimi. Jesus era o Centro de tudo. O domingo de Ramos passava pra mim, tão pequena, a imagem do fervor e do amor. Tempos de muita humildade e respeito.