SALVO POR UM LIVRO
Numa noite de setembro de 2013 bateram à porta, passava das 22 horas. Para bater daquela forma, sem cerimônias, era alguém de casa, alguém da nossa intimidade, pois os cães nem resmungaram. Se fosse alguém estranho eles teriam estraçalhado.
Então restou-me abrir a porta.
Cara à cara com ela, correu-me um calorão pelo corpo e a cabeça parecia que iria explodir.
A resposta foi imediata:
- Saia daqui, eu não te convidei. Em nome de Deus, ponha-te a correr.
Os familiares que estavam comigo, olharam-se, pensando que eu estava maluco. Ora, eu não era disto, xingar o que não se via.
Ela, calma, serenamente reprendeu-me, dizendo-me que meu tempo por estas paragens havia findado.
Argumentei que precisava ajeitar algumas coisas para levar, mas ela disse que eu não precisaria de nada, durante a travessia.
Apelei, pois não tinha escrito livro algum, então faltava-me isto, para concordar com a mania que as pessoas tem de dizer, que para termos vividos, devemos ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Assim, toda vez que quero escrever um livro, prefiro plantar mais uma árvore.
Só isto? - Ela indagou-me!
Preciso viver para os meus, pois até o momento vivi para os outros.
Eu volto outro dia, disse ela, sumindo na escuridão, tão rápido que deixou a foice para trás.
Armei-me da companhia de pessoas, de profissionais, de deuses, de tratamentos, de medicina e medicamentos convencionais e convencionais e da medicina e medicamentos espirituais.
Nem bem passaram-se seis meses e ela voltou. Deu-se mal, eu estava rodeado de gente boa.
Novamente ela desapareceu, sem tempo de sentenciar-me.
Agora tenho me dedicado a pô-la para correr, quando ela fica arrodeando algum amigo, ou familiar.
Claro que nem sempre consigo assustá-la, mas quase sempre.
Do livro: A força de cada um - 2014 - 2015