Deserto, dúvida e esperança
Se tivesse sido o diretor desse filme, eu o intitularia de "a espera" ou de "perseverança", mas o genial Valerio Zurlini se rendeu à fama da obra literária, de Dino Buzzati, preservando sua já conhecida denominação: Il deserto dei tartari. O filme trata de uma longa espera, que requer paciência, mas estimulada por um longuíssimo suspense. Homens, reclusos numa afastada fortaleza, sob ordem militar e austeridade monástica, como se fosse de um distante eremitério, são submetidos à disciplina de um regulamento que não tem outro objetivo: combater um pretenso inimigo que não aparece, que não vem. Os tártaros não chegam, mas todos os soldados, privando-se do seu meio social, da sua cidade, da sua casa , da sua família, dos seus amores, sofrem a tortura de muitos sofrimentos e de uma demorada espera. Também os constrange o surgimento de uma dolorosa e crescente dúvida: o inimigo existe? Criar inimigos é muito comum naquele que padece de delírios persecutórios, de paranóia; olha, desconfiado, para o grupo, imaginando que se está aprontando alguma coisa contra ele. Nesse caso, por trás das cortinas de areia ou das dunas que se perdem na distância, há um inimigo que pode emergir a qualquer momento.
Tudo isso se desenrola na película O deserto dos tártaros que, sem dúvida e com certeza, será exibido, no Cineclube Verbo & Imagem, da Academia Paraibana de Letras (APL), às 18 horas, de 29 março, nessa última quinta-feira do mês, com classificação para 14 anos e com "entrada gratuita". E ainda, no final, haverá um rico debate comandado pelo crítico literário e escritor, da APL, Hildeberto Barbosa Filho.
Esse romance é de superbíssima engenhosidade, exigida pela simplicidade do tema e da dificuldade do autor ter de escrever entre seu começo e seu fim. Mas, Dino Buzzati conseguiu. Muitos diretores tentaram adaptar essa obra ao cinema, mas desistiram desse enredo, como Michelangelo Antonioni que, depois de algumas tentativas, abandonou o projeto. Somente Valerio Zurbini assumiu, a termo, tal tarefa, apresentando um excelente elenco: Byran Rostron, Fernando Rey, Francisco Rabal, Giovanni Attanasio e Giuliano Gemma. Fizeram arte com vidas solitárias, cheias de regras e dramas pessoais, angustiantes, circunstanciadas pelo aparecimento de uma doença misteriosa e mortal, e, o pior: vidas com a impossível missão de combater um inimigo, talvez fictício, vindo do imaginário, assim tornando suas vidas monótonas e sem sentido, a viverem em vão, como canta Geraldo Vandré: a "viver sem razão"...
Se tivesse sido o diretor desse filme, eu o intitularia de "a espera" ou de "perseverança", mas o genial Valerio Zurlini se rendeu à fama da obra literária, de Dino Buzzati, preservando sua já conhecida denominação: Il deserto dei tartari. O filme trata de uma longa espera, que requer paciência, mas estimulada por um longuíssimo suspense. Homens, reclusos numa afastada fortaleza, sob ordem militar e austeridade monástica, como se fosse de um distante eremitério, são submetidos à disciplina de um regulamento que não tem outro objetivo: combater um pretenso inimigo que não aparece, que não vem. Os tártaros não chegam, mas todos os soldados, privando-se do seu meio social, da sua cidade, da sua casa , da sua família, dos seus amores, sofrem a tortura de muitos sofrimentos e de uma demorada espera. Também os constrange o surgimento de uma dolorosa e crescente dúvida: o inimigo existe? Criar inimigos é muito comum naquele que padece de delírios persecutórios, de paranóia; olha, desconfiado, para o grupo, imaginando que se está aprontando alguma coisa contra ele. Nesse caso, por trás das cortinas de areia ou das dunas que se perdem na distância, há um inimigo que pode emergir a qualquer momento.
Tudo isso se desenrola na película O deserto dos tártaros que, sem dúvida e com certeza, será exibido, no Cineclube Verbo & Imagem, da Academia Paraibana de Letras (APL), às 18 horas, de 29 março, nessa última quinta-feira do mês, com classificação para 14 anos e com "entrada gratuita". E ainda, no final, haverá um rico debate comandado pelo crítico literário e escritor, da APL, Hildeberto Barbosa Filho.
Esse romance é de superbíssima engenhosidade, exigida pela simplicidade do tema e da dificuldade do autor ter de escrever entre seu começo e seu fim. Mas, Dino Buzzati conseguiu. Muitos diretores tentaram adaptar essa obra ao cinema, mas desistiram desse enredo, como Michelangelo Antonioni que, depois de algumas tentativas, abandonou o projeto. Somente Valerio Zurbini assumiu, a termo, tal tarefa, apresentando um excelente elenco: Byran Rostron, Fernando Rey, Francisco Rabal, Giovanni Attanasio e Giuliano Gemma. Fizeram arte com vidas solitárias, cheias de regras e dramas pessoais, angustiantes, circunstanciadas pelo aparecimento de uma doença misteriosa e mortal, e, o pior: vidas com a impossível missão de combater um inimigo, talvez fictício, vindo do imaginário, assim tornando suas vidas monótonas e sem sentido, a viverem em vão, como canta Geraldo Vandré: a "viver sem razão"...