SOBREVIVENTE

Aquele fim do mundo tantas vezes anunciado pelos pseudos profetas dos últimos dias é claro que não aconteceu e pensando direitinho somente acontecerá da forma como eles apregoaram num dos próximos bilhões de anos que hão de vir.

Entretanto se observarmos o mundo ao nosso redor chegaremos à conclusão de que, realmente, o fim dos tempos já aconteceu e que, pelo menos eu, sou um sobrevivente de um mundo que já não mais existe.

Aquele mundo que eu conheci e aonde vivi entre as pessoas que tinham objetivos e lutavam para atingi-los.

Aquele mundo do respeito à vida, à família, aos semelhantes, ao bem público, à palavra empenhada. Onde se aprendia a valorizar a formação acadêmica, ser amigo dos amigos e a reconhecer a honra dos inimigos.

A partir dos anos sessenta do século passado a tecnologia associada às novas vertentes de comportamento da sociedade fez a revolução do avesso.

Tudo aquilo que era, deixou de ser, tudo o que tinha importância, deixou de ter, tudo o que era essencial perdeu o valor.

A ideia de preservação foi substituída pela do descartável, o planejamento, a maturação das idéias e a definição de objetivos para o futuro foram trocados pelo imediatismo do improviso e a comunicação rápida e sem profundidade passou a dominar o dia a dia das pessoas.

A população rural mudou-se para a periferia das cidades engordando as já existentes ou dando origem às novas favelas, cada vez maiores, cada vez piores.

As casas que tinham oitões livres, jardins e quintais deram lugar aos prédios e os apartamentos que se amontoam uns sobre os outros têm, em média, trinta metros quadrados.

Hoje quando alguém procura por outra pessoa, não se pode mais dizer – está lá dentro – porque está sempre ali em nossa frente.

Privacidade e segredos familiares são coisas do passado.

Pelas redes sociais podemos ter zilhões de amigos virtuais, mas não sabemos o nome do vizinho do lado e por toda parte vemos diariamente os sinais da degradação cultural.

Um dos filósofos da antiguidade já dizia que o fim de um povo e da sua cultura pode ser indicado pelo tipo de música que é produzida ali.

Nossas músicas e cantores, se é que se pode chamá-los assim, com licença do termo chulo, está uma merda.

Aqueles poemas finamente musicados que eram interpretados por vozes afinadas dos cantores de boa qualidade foram substituídas pelos pancadões, guinchos histéricos, rebolados sem sentido e roupas extravagantes desses “artistas” que, felizmente, nem sei seus nomes.

É a imitação insossa dos “cantores” estrangeiros que todo mundo considera “reis do pop”, mas que no meu entender, não tem o mínimo valor.

Os espetáculos, aparelhados com alta tecnologia de luz e som, mais parece demonstração de ginástica aeróbica com gestual e posições de fazer inveja aos atores de filmes pornô.

Mas não há porque desesperar, pois pelo computador temos a oportunidade de acessar todas as bibliotecas do mundo, os trabalhos científicos e os avanços tecnológicos nas diversas áreas do conhecimento.

Dispomos de outras matrizes energéticas que não os combustíveis fósseis ou nuclear.

Temos motor movido a hidrogênio cujo rejeito é água destilada.

O fantasma da fome que, se dizia, iria dizimar grande parte da humanidade faleceu diante da alta tecnologia da produção de alimentos. Só precisamos aprender a distribuir.

E quanto à água potável, cuja escassez foi a grande vedete do fórum mundial em Brasília, basta que sejam implantados dessalinizadores, pois temos à nossa disposição as águas de cinco oceanos e tecnologia bastante para transformar desertos inóspitos em áreas aprazíveis e produtivas como já fizeram os israelenses.