Grande Sertão Zumbi

Li num livro, certa feita, que um escritor só poderia discorrer acerca da natureza de um zumbi caso estivesse apto a viver como um. Passando a noite no meio do mato. Com terra à sua volta. Quanto maior o contato com a terra, mais próximo de compreender a essência zumbi possível. Mas como fazê-lo? E coragem para tanto? Contato com mosquitos, minhocas, lesmas, insetos estranhos... Viver enterrado? Passar uma noite enterrado? Como? COMO? Por onde respirar? "Daria um jeito de fazê-lo por meio de um tubo um tanto largo, do tipo mangueira de aspirador de pó... Arre! Como? Insetos poderiam entrar por ele... Inconcebível! A noite as coisas têm outra face. Ou melhor, a noite é outra face do dia. É um período apropriado a outros tipos de criatura para viver. Sair à caça. Vida noturna. Cé loko.

Mas não. E assim damos início a mais uma série de relatos um tanto insólitos, difíceis de serem acreditados. (O homem do interior, o matuto, o caipira mesmo, sabe? Então: ele crê em coisas que os "doutores", os letrados, negam existir, haja vista sua visão enviesada pela ótica científica, academicista, intelectual, contrária àquela percepção terrena, radical, isto é, proveniente da raiz, desse vínculo visceral com a terra.)

Um amigo sabe que seres incríveis habitam mundos paralelos a esse a que estamos tão (des)acostumados a conhecer. Sabe que bruxas e ainda outros seres fantásticos mesmo, existem mesmo. Além da imaginação. Os cemitérios, por exemplo, guardam parcelas de vida. Claro que não são o que imaginamos (afinal, destinamos nossos mortos a esses "Campos Santos", último – e eterno – local de repouso dos Finados). Mas podemos falar em baratas, alimentos naturais aos escorpiões que percorrem túmulos e mais túmulos em busca dessas presas nada simpáticas, habitantes de lugares como esgotos e outras zonas bem pouco dignas de maiores menções na presente narrativa. Mas vultos e visões passeiam por esses lugares onde "vivem os mortos". E não são poucas pessoas que podem dar uma palavrinha sobre sua experiência com "o outro mundo." Não. Falarei agora de um caso típico. E muito estranho.

Semana retrasada eu procurava fazer um projeto escolar que envolvesse a temática zumbi (esse ser "Morto-Vivo"), representando, numa visão bem pessoal minha, sob uma face bem específica de minha interpretação, uma espécie de crítica aos "Vivos-Mortos", ou seja, essas pessoas conformadas com coisas como a atual situação sociopolítica brasileira, para tocar num assunto bem familiar. Do projeto eu não falarei mais nada. (...) Bem, prometi, não?, que iria não tocar nesse assunto. Não m'estender sobre ele. Estou indo além dos FATOS a que me propus relatar por ora e aqui. Continuemos, pois. Numa de minhas pesquisas, passando a noite no Casarão Vazio (e semiabandonado), eu notei que se eu passasse umas noites a mais lá, poderia descobrir coisas (fenômenos, como dizêmo-lo em termos científicos) que poderiam ser observadas com algum proveito. Claro que tive de lidar com minha autocrítica: "Cê tá louco, WV? Isso parece mais um caso de insanidade mental!" Mas e daí? Que me importa! Dormi lá – para ser mais objetivo e não enrolar tanto o meu leitor –! Sim! Pernoitei lá, Gente Fina! Pernoitei lá! Foi incômodo – mas tive de passar por semelhante experiência, Povo! Sim! SIM!

Há um curto período (acho que umas três da matina, por aí), parte do que em Inglês convencionou-se chamar de "Graveyard Shift", algo como "Turno do Cemitério", que o mundo simplesmente para. Nem insetos "se falam". O tempo congela – é complexo dizê-lo, entendem? Mas arrisco-o; é uma sensação pra lá de anormal. É a Estranheza Encarnada. Nada ocorre – em absoluto. Reitero que o tempo para por alguns instantes, minutos, quiçá. Uma brisa – diabos! Agora é que não me irão crer mesmo! – aproxima-se. Toma conta do ambiente (árvores em volta de um terreno em razoável declive; animais mortos enterrados lá). E congela os ossos! Não pela temperatura do horário, mas pela forte impressão de que se está a viver como um zumbi. Como quem passou ao Outro Lado! Sim! Verdade! A pele fica muito fria e pálida. O luar, quando presente, confere um aspecto de prata e mesmo inumano ao nosso corpo! Mas o mais estranho ainda não foi dito! Não disse nada de mais ainda! Não! É algo terrível! Antes de partir para uma segunda fase de meu relato, devo preparar o leitor para fortes emoções. Ainda mais se lendo a essa hora da noite. Aceitas o convite ao Sobrenatural? Se sim, siga-me. Guiar-te-ei por essas sendas de trevas, malgrado a discreta luz da lua permita enxergar alguma coisa por aqui... Avancemos. Tive medo de me deitar. De buscar o sono novamente. Senti-me eu mesmo um... zumbi! Balela! O que eu estava prestes por ver, ACORDADO MESMO, em vigília, é um fato sem comprovação científica. Dir-me-ão que estou sob o efeito de drogas. Não! Não! Juro que NÃO! JAMAIS o faria! É preciso, sou partidário desse pensamento, enfrentar a vida com o rosto e o coração limpos. Sem efeito de entorpecentes. Ou se está nessa e aceita-se o desafio ou simplesmente cai fora e deixa a vida seguir seu rumo. Não é trabalho para os fracos de coração nem de estômago! NÃO! E continuo: a ciência não apoiaria minhas declarações – embora eu creia ter observado um fenômeno atípico e digno de nota. Tento não ser subjetivo em demasia, mas admito: sou-o. E isso deve irritar meu leitor. Perdoem-me, sim? "Diabos, WV, que foi que ocorreu em seguida? Pare de enrolar a gente, cara! ANDA! FALE LOGO!" Ok. Tá certo. Aquela tal brisa – "O Ar da Meia-Noite", como eu pensara ser o que o Metallica se referira em "Creeping Death" – era uma chave para uma experiência de extrema singularidade. A presença do Ser Noturno já me era sentida sob a pele! SIM! Ele deve tomar conta do lugar. Ao menos do terreno. "Ser Noturno": não conheço melhor definição. Ele não é do tipo humano, tampouco animal. Mas se manifesta por meio desses. Os bichos ficam um tanto agitados ante sua aproximação. Ele faz com que mesmo as árvores fiquem um tanto inquietas. Não o pude ver direito; apenas o senti próximo. Metros de distância – coisa de uns cinco. Amorfo e invisível, comunicava-se comigo por telepatia. Era de uma seriedade sem igual. Revelou-me coisas que me advertiu para manter em segredo – o futuro pertence a ninguém, é fato comprovado. Mas pelo meu próprio bem – como da humanidade, ao menos do município onde moro –, devo, em questão de alguns dias, esquecer quase que totalmente o que o Ser Noturno me dissera. Afinal, "Ignorância é Enorme Felicidade". O que posso revelar é a gratidão pela experiência tão extrassensorial – caríssima a um autor como eu. Rendeu esse post que possa interessar a uns dois ou três leitores, pois é a quantidade máxima de gente a quem consigo "atingir", não sem saber exatamente por que. O Tempo é mera conveniência humana para tentar pôr um pouco de ordem à nossa caótica experiência tão passageira, porém intensa e variada, a que chamamos de "vida". Isso também ficou mais claro depois desse "Contato Imediato do Segundo Grau", se couber essa expressão empregada por ufólogos. Mas não era – como não me pareceu sê-lo – um extraterrestre. Há, por certo, os intraterrestres. Ou Imateriais Habitantes da Terra. Vivem num mundo paralelo ao nosso. E guardam segredos de tempos imemoriais. O que foi revelado a H. P. Lovecraft, Allan Poe e outros feras da Literatura Fantástica, o foi de modo genuinamente justo. Embora eles negassem a realidade dos relatos. (Talvez tivessem suas razões para tanto, haja vista a época em que viviam, não?)

É estranho notar que há coisas ocorrendo há muito tempo sob nossos narizes, mas por alguma razão somos distraídos, não nos interessamos por elas. Simplesmente nos afastamos delas devido às nossas preocupações com nossas contas a pagar, a comida a ser posta em casa... Talvez coisas menos importantes – se é que elas teriam alguma importância, não? –, como checar as novas mensagens no celular.

O "Ar da Meia-Noite" traz uma preparação para uma tríade de horas depois. Os caminhos se tornam outros – por algum tempo indefinido. Mas quem tiver coragem (e tempo!) para buscar descobrir isso por sua própria conta e risco...

Vivemos sob a égide de uma crença num Deus Todo Poderoso, na imortalidade da alma, apesar da perecibilidade desse involucro carnal. De igual modo, cremos em Forças Sobrenaturais. Não podemos estar totalmente enganados – aí é que, com efeito, está o problema. Poucas pessoas (que eu julgo conhecer) estão aptas a se embrenhar por experiências como essa, sabem? É. Pouquíssimos são os que estão preparados para as Descobertas de Outras Realidades sem recorrer a drogas e outros entorpecentes.

E, voltando à parte mais interessante do que eu dizia, vale a pena buscar um contato com a Natureza – útero da Terra. Local de onde vimos. E para onde retornamos. Quanto à Jornada da Alma... Isso é assunto para outro post.

W. V.