Ladies of the Night

Elas eram três. Havia alguns dias eu as aguardava. Não sabia se viriam juntas ou se chegariam aos poucos. Mas eu sabia; ficariam muito pouco tempo. Um pernoite apenas. Eram três. Já disse isso...

Foram semanas de preparo, movimentos lentos, avisos. Fui me envolvendo com o que eu acreditei, a princípio, seria um grande encontro. Anunciava-se que haveria um evento grandioso, com muitas convidadas. Somente alguns dias antes, muitas delas declinaram do encontro. Uma pena. Cada uma que anunciava sua desistência, causava em mim, grande pesar. Por fim só três confirmaram presença. E eu nem sabia, ao certo, se iriam mesmo se encontrar.

Nos últimos dias antes de chegar, elas davam certezas de que se mostrariam deslumbrantes. Enormes. Minha ansiedade era tamanha, que já não conseguia deixar em paz o lugar onde elas viriam ter.

Mesmo sabendo que só seria possível que sua chegada fosse a noite, eu passava os dias a contemplar o nosso ponto de encontro, a receber suas mensagens sutis. O grande dia estava próximo, estava claro. Meu coração me avisava e eu sabia que teria que lhes dar atenção. Qualquer descuido, elas viriam e eu não teria o prazer de ver seus encantos.

Finalmente, há três noites, pude ver a distância; a primeira havia chegado. Linda, majestosa, mas ainda tímida. Percebendo-se só, ela não demonstrou medo ou pesar. Ao contrário, distribuía seu encanto aos visitantes curiosos. Suas vestes brancas, com pequeninos detalhes em amarelo ouro lhe davam ares de noiva. Uma noiva elegante e perfumada. Era enebriante seu perfume. Minha dama se manteve em destaque, fazendo de si mesma um espetáculo.

Fiquei com ela o quanto pude. Ficamos juntas e atendemos a quem vinha fazer visita. Os comentários de encantamento sucediam-se. Juntas, recebemos visitas, mas observamos que as outras duas chegariam muito breve. Essa certeza me empolgava, mas olhar para a dama solitária partiu meu coração. Serena, ela sabia que não viveria para o encontro. A breve vida não lhe permitira essa alegria. Era triste, mas ela não deixou, um só minuto de se apresentar radiante. Bela e perfumada. Apesar da certeza de uma vida muito curta. Ao amanhecer ela se foi...

Seu corpo ainda posou onde uma das outras chegaria. Era quase um abraço. Entre a que ainda viveria seu reinado e a que, já sem vida, perdia beleza e aroma.

E veio a noite; as duas vieram juntas. E o espetáculo em duo foi magnífico. Duas lindas debutantes de branco e amarelo, como a noiva que partiu. O perfume espalhado pelo ar, emocionava. Estavam alegres e envolventes. Fiquei com elas por algum tempo também. Mas confesso que elas não pareciam precisar de minha companhia. Eram companheiras uma da outra. Foi muito alegre a noite de suas vidas. Mas também elas não resistiriam a noite e nos deixaram na manhã seguinte.

Tão efêmera a beleza dessas damas. Tão sublime o privilégio de recebê-las.

Hoje seus corpos ainda repousam no seu jardim encantado. Mas a vida que tiveram é eterna nas memórias daqueles que como eu, viverem a experiência de recebê-las: As minhas Damas-da-noite.