IDOLATRIAS
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Acautela-te dos deuses com “d” minúsculo. Parecem absolutos, mas são relativos, temporários: dinheiro, ditadura da beleza, fama, consumismo, drogas, trabalho compulsivo (workaholic), joias, propinas, poder e mando, máquina. A máquina facilita sobremaneira a vida das pessoas, no espaço e no tempo, mas pode também tornar-se bezerro de ouro, objeto de cega paixão idolátrica.
Evoluindo a tecnologia, transmudam-se os valores. Ambivalente, o progresso tem seu preço. Fazer a ponte entre o passado e o futuro significa abrir este e arquivar aquele sem apagá-lo. Dos avanços considere-se, primeiramente, o automóvel. Meio prático de locomoção, símbolo de status, ocasião de dores de cabeça: trânsito caótico, filas duplas, acidentes. Mais que utilitário, o carro se transforma num usurpador: usurpador do espaço do pedestre. Ruas e avenidas largas em contraste com estreitas passarelas; garagens amplas, apartamentos pequenos. Ornado de adereços, equipado com sofisticações; lustroso, brilhante, incrementado; acessórios de toda natureza.
Hoje em dia, um animal de estimação faz parte da família, que dispõe de pet shops e hospitais muito melhores que os do SUS. Esquecer ou perder o celular vira um drama. No filme “O passageiro”, o vendedor de seguros (Liam Neeson) só se dá conta de que deixara cair o celular no piso da estação quando, já dentro do trem, esse partiu. A partir daí...
O homem vive às voltas com o canto das sereias: metade peixe, metade mulher; deleite, descrença. A utilidade, relativa, determina o preço, dita o valor. Subverte-se a hierarquia, invertem-se os valores. Por último, mas não menos verdadeiro, a idolatria do corpo sarado e a idolatria de si mesmo, cuja autoimagem transforma-se em palco, “altar de primeira grandeza aos sacrifícios idólatras”. Em nós, e nas celebridades, alvo de verdadeira adoração pelos fãs, o bezerro de ouro se mantém no pedestal. Bem nos altos plintos de nossa ilusória autossuficiência.