Pescaria

Dizia meu pai que pescaria era pura emoção quando a gente marcava, grande animação quando a gente ía e puro desânimo quando a gente voltava.

Quando meu pai marcava a pescaria tudo transcorria, inclusive os diálogos numa rotação mais alta, pura animação e na volta dependendo do ocorrido, a rotação baixava a quase zero, os pernilongos, borrachudos e a falta de fisgadas tinham extraído sangue e alma, com exceção de alguns que não iam para pescar, mas para beber.

Cerveja e pinga em pescaria dizem que acaba mal, mas garanto que o relax é bem maior que o estres, o sujeito toma umas tantas e vai dormir.

Fui numa pescaria no pantanal que levamos tanta cerveja na carreta que tivemos que reparar o eixo que entortou. Era tanta cerveja na caixa de isopor gigante que cabia dez duzias de latas e parecia que estava furada, cerveja super gelada na beira do rio com peixe frito e limão acaba rapidinho.

Todo mundo fumava e os pernilongos pareciam teco-tecos zumbizando em volta da gente procurando um lugar limpo para pousar e encher o tanque, a fumaça dos cigarros espantava um pouco os bichos e todos acendiam um no outro, parecendo chaminés.

Pois bem, o cigarro acabou e começou uma verdadeira batalha pelas bitucas espalhadas pelo acampamento, para fumar até o filtro.

Quando acabaram as bitucas, deu um desespero tragicômico nos viciados, qualquer erva seca estava servindo de fumo, até talo de mamona seco virou cigarro.

Pescaria tem dessas coisas, histórias que vão ser contadas para filhos e netos, puro desafio e diversão que só acredita quem viveu.