A Casa que me Habita

Percebi, subitamente, que não moro mais na mesma casa. Algo se modificou e de forma lenta, imperceptível. Minha casa ganhou espaços que, na juventude, não tinha. Olhava para isso com incômodo, mas, agora, vejo que nada pode ser igual para sempre. A casa que habita minha alma não pesa mais 54 quilos, nem possui a destreza nos movimentos. Alargou-se para acomodar a maternidade, a maturidade de uma vida inteira derramada em lágrimas e sorrisos.

Em meu rosto, o lustro da pele ganhou vincos por onde as lágrimas que me ensinaram o custo de tanto sentir, escorreram, por décadas, marcando seu caminho de aprendizado. Do mesmo modo, as linhas ao redor de minha boca tatuam meus sorrisos. Me orgulho de ver minha morada se modificar com tudo o que vivi.

Não quero, jamais, apagar as memórias marcadas em meu rosto ou em toda essa minha casa que me abriga por tantos temporais e primaveras!

Essa casa que habita minha alma precisou acomodar muitas coisas e não seria possível sem mudanças. Precisei desacelerar, aumentar espaços para que coubesse tudo o que me faz ser o que sou hoje.

Mas, contudo, ainda é possível contemplar da mesma varanda, o passado que me moldou! É, de fato, com o mesmo sorriso que confronto minhas dores, por mais que me vinquem a face novamente! Serei transformada pela vida e por todas as pessoas que passarem por ela, deixando algo de si em mim, em minha casa e em minha alma!

Hoje sei a verdadeira importância que nosso exterior tem, pois reflete os caminhos por onde passamos!

Aceitar-se não é somente viver em paz, mas reconhecer o quanto a mudança e as estradas da vida por onde andamos, nos acrescentaram cômodos! O que fazer com eles é uma escolha de cada um. Eu, simplesmente, me negarei a arrancar qualquer um dos meus!