Vamos pegar uma onda? Vamos entrar em uma onda? Nós precisamos de uma onda

Freud já dizia que todos nós precisamos nos engajar em algo para canalizar nossas energias. Uma das nossas características, enquanto humanos, é a vivência em sociedade participando de grupos diversos. Pelo menos assim deveria ser, Freud tentou nos convencer disso. Gabriel, O Pensador, em uma de suas majestosas canções também nos fala da necessidade de pegarmos uma onda.

E você, amigo leitor, qual sua onda?

Eu não sei se estou imerso em alguma onda ou se apenas estou contemplando a beleza do mar. No geral, os brasileiros gostam do mar, vão muito ao mar, todavia não são adeptos das ondas. Em um país com uma faixa litorânea tão extensa, de uma beleza indescritível, não é de se conceber que nós todos não somos excelentes na prancha.

Como disse anteriormente, não me identifiquei com nenhuma onda ainda. Atualmente e sempre fora assim, minha onda é estudar, trabalhar e curtir a família.

E pelo que vejo em nosso país, muitos fazem apenas isso ou acrescentam a essa lista o carnaval, o futebol e cerveja, sem contar com o grande número de brasileiro que tão somente curte as três ultimas ondas. O mar de miséria em que o Brasil está mergulhado desde a época da colonização, se deve, em boa parte, a essa falta de desejo de pegarmos uma onda.

São raríssimas as vozes que se levantam contra o mar de injustiças praticas contra nosso povo. Pagamos altíssimos impostos, mas não temos investimentos em serviços públicos. Por aqui, o SUS já fora sepultado e as filhas nos hospitais públicos só aumentam a cada na esperança de uma possível ressurreição. A Educação pública uma tragédia na vida dos alunos de baixa renda que não tem recursos para frequentar uma escola particular. A Segurança pública é uma piada, cada dia as pessoas se aprisionando mais enquanto a bandidagem curte as praças de laser, as estradas e as festas.

Infelizmente, a onda que os brasileiros curtem incansavelmente é o fanatismo e a idolatria. Mas essas são ondas que enfraquecem o mar e colocam os banhistas uns contra os outros. São mensagens de ódio, xingamentos, racismo, preconceito, homofobia, além de outras que povoam as redes sociais e mesmo presencialmente. Defensores do grupo partidário A não dialoga crítica e reflexivamente com os integrantes do grupo partidário B e vice-versa.

As ondas continuam passando, quebram na rebentação, mas sempre solitárias. Voltam se formam em alto mar, veem lindas e exuberantes, mas os surfistas ainda dormem. As pranchas utilizadas atualmente pelos nossos surfistas são as redes sociais. Seriam ótimas para pegar qualquer onda, mas os usuários ainda não aprenderam ficar de pé nessas novas ferramentas de surf. Enquanto isso, em terra firme, os ratos continuam surfando nas ondas da nossa ignorância, do nosso silêncio, do nosso analfabetismo crítico. Então, qual sua onda? Acorde, levante, o mar está lindo, as ondas estão convidativas, escolha uma e mergulhe de cabeça e alma.