Meu reino por alguém diferente, também

Casualmente, encontrei na internet um texto da escritora Tati Bernardi intitulado “VIVO (a) OU MORTO (a) - Meu reino por uma pessoa interessante”. Nele, ela narra sua busca por pessoas interessantes. Achei legal esse texto e juntei-o aos outros textos legais que tenho em meu computador. O que li me inspirou a escrever este, acerca de algo que já há algum tempo me incomoda. Assim como ela, também estou à busca de pessoas, as quais devem fugir ao estilo antipático-autossuficiente tão comum no cotidiano de nossos relacionamentos. Mas, a busca por pessoas diferentes não é algo novo. Lá pelo século IV antes de Cristo o filósofo grego Diógenes de Sinope já fazia isto. A história registra que ele, inconformado com o estilo de vida de seus contemporâneos, saía em plena luz do dia com uma lamparina acesa procurando por homens verdadeiros. E para uns esta busca, por vezes, se torna tão angustiante que a oferta de um reino se torna até compreensível. Foi assim com o rei Ricardo, cuja pena Shakespeariana narrou seu dramático infortúnio. Ao ter a vida ameaçada no campo de batalha pela perda de seu cavalo, este promete dar seu reino a alguém que lhe desse outro animal. São também assim aqueles que correm a vista pelo horizonte em busca de alguém que fuja a esse incomodo padrão de relação pessoal – estes também estão dispostos a darem seus reinos. Parece que sempre sentiremos a falta de algo a mais, algo que nos alente e faça a diária experiência de vida ser suportável e valer à pena. Talvez algum tipo de fluoxetina, quem sabe injetável, que aja direto e rápido no ego doente e cure a todos da tristeza das relações mal sucedidas. Um parêntese! Antigamente, falar de pessoas diferentes seria equivalente a falar de pessoas, que de certa forma, possuíam atributos que incomodavam a sociedade e que ninguém desejaria para si. Pessoas com manias extravagantes, por exemplo, cujo passar ininterrupto do tempo faria com que elas fossem vistas como portadoras de transtornos psico-sociais. Com o advento da onda anti-preconceito passaram da condição de marginalizados para socialmente excluídos e carentes de inclusão. Esses tais que erguem a bandeira anti-preconceito, sem distinguir ao certo o que isto significa são hipócritas. É difícil não ter preconceito – falo de preconceito e não de violência. Todos possuem alguma primeira impressão sobre tudo (pre+conceito), boa ou má. O amor à primeira vista é fruto do preconceito, caso contrário, só amaríamos nossos amores, depois de tê-los dissecados. E não é assim que acontece. Enfim, naquela época, ser diferente não dava audiência. Mas, o mundo gira e as coisas mudam e parece que alguns chegaram a um nível de iluminação que lhes permitiu perceber que ser diferente dos tipos que optaram por relacionamentos comunitários padronizados, ou seja, ser e fazer tudo igual seria uma boa escolha. O que estou querendo dizer desde o começo com “ser diferente” é simplesmente alguém ser capaz de um ato de cortesia – a velha e boa capacidade de interagir com os outros de forma amistosa e agradável. Afinal, parece que no conceito das pessoas esta prática caiu muito. Muitos não sentem mais a vontade de trocar um aperto de mão, um sorriso ou um simples bom dia ou outra hora do dia qualquer. Talvez porque a cordialidade possa assumir outras nuanças, como mostrado no livro “Raízes do Brasil”, do historiador Sérgio Buarque de Holanda. Nele, ele fala da origem etimológica da palavra cordial, que remonta “àquilo que vem do coração”, se é assim, podemos esperar tanto amor como ódio, afeto ou indiferença. Eu, contudo, prefiro ficar com as coisas boas, pois proporcionam um melhor estado de vida emocional. Aqueles que optam pela segunda via se individualizam tanto que viram pessoas ranzinzas e chatas. E como resultado disto se tornam feias – não me refiro aqui ao belo estético. E quem quer estar ao lado de pessoas feias? Para estas pessoas já joguei a toalha, cansei de não ter os meus bons-dias respondidos, cansei de ser atropelado por suas indiferenças e pseudo superioridade, cansei de ser visto como alguém invisível e desprezível, cansei de ser visto como alguém que carece de alguma vênia para poder ter um dia melhor. Se é assim que sou visto a falta do meu cumprimento não fará diferença, além do que, não ficarei mais aborrecido com suas antipatias. E para aqueles que caminham, sem perceber que existem pessoas ao redor fica o recado: Cuidado, você também pode está ficando invisível para alguém.

Quinho Barreto
Enviado por Quinho Barreto em 21/03/2018
Código do texto: T6286387
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