Os carros.
Lá na Ford os "colegas" diziam que todos deveriam ter carros da empresa, e se incomodavam quando alguém estacionava carros de outras marcas, como eu, que sempre tive o que quis, nunca liguei para isso .
Quando vinham com esse papinho besta, eu respondia que não recebia "royalties" e nem " direitos de imagem", e que cumpria as minhas obrigações com a empresa com a máxima dedicação e profissionalismo, e se insistissem muito já dava na "medalhinha", num curto e grosso: "Quem manda na minha vida sou eu, compro o que quiser com o meu dinheiro".
Uma vez disseram para o meu chefe : " O Aragón é meio pavio curto, não é ?", e ele respondeu : " Não, ele é uma ótima pessoa, só não pise no calo dele ", e isso foi uma constante, sempre fui muito profissional, mas não se atrevessem a passar do limite do que é tolerável, porque levariam uma resposta à altura, e rápida como um autógrafo.
Vira e mexe ouviam-se rumores de que o pátio de estacionamento iria barrar carros que não fossem da marca Ford, mas nunca saiu um único comunicado oficial, e olhe que trabalhei lá por trinta e cinco anos. Certamente seria uma medida abusiva, que me parece ilegal, mas se por ventura viesse uma nota oficial, certamente eu trocaria de carro.
Tive carros Ford também,que são ótimos, mas às vezes me dava vontade de ter outras marcas, e tinha, nunca me intimidei com isso.
Como às vezes pegava estrada à trabalho, usava os carros da frota, com tudo pago, assim como passagens, hotéis bons, e tudo era devidamente comprovado e anexado ao relatório de viagem , para essas despesas usava um cartão corporativo, cujos reembolsos eram feitos nas datas certas. Quando as viagens eram para outros estados, usava o aluguel de carros nos aeroportos, a "Hertz" tinha a parceria, onde se lia " Rent a car " ( alugue um carro), e sempre era por feito lá.
Sempre pensei da seguinte forma : " Sou funcionário da empresa, e a ela devo obediência", não sou funcionário de João, Pedro, Maria, Antônio...então, se algum desses estiver acima de mim pela hierarquia recebida, que façam o que a empresa determina, caso contrário não haverá diálogo.
Trabalhava muito, além da conta, talvez como uma forma intuitiva de compensar o meu temperamento, fazia o dobro , o triplo, aceitava desafios duros, trabalhos difíceis, sem reclamar. Nunca tive sangue de cordeiro, mas era amigo de todos e afável , só deixava claro que não se metessem na minha vida.