ESCASSEZ DE MATÉRIA-PRIMA

Os precursores das grandes navegações conhecidas foram os Vikings. Por vários motivos muito da História desse povo nórdico se perdeu. Um desses motivos foi que aos olhos de uma Europa “civilizada e crente”, os Vikings eram considerados “selvagens e promíscuos”.

Há fortes evidências de que eles teriam chegado às Américas muito antes dos portugueses e espanhóis. Seus barcos chamados de “Drakkar” (navio dragão) não eram bons apenas pelo fato de serem fabricados por excelentes construtores. De nada adiantaria excelentes construtores, se a matéria-prima usada não tivesse excelência também.

O mesmo cabe para portugueses e espanhóis. Se suas caravelas que cruzaram os mares rumo ao desconhecido, não fossem fabricadas com matéria-prima de excelente qualidade, é bom possível que eu nem estivesse aqui escrevendo esta crônica. A História conhecida seria completamente diferente.

E já que estamos numa região moveleira, podemos citar a qualidade dos móveis também como exemplo. Enquanto as conhecidas “madeiras de lei” podiam ser usadas como matéria-prima, a excelência na qualidade dos móveis estava num nível elevado. Quando seu uso foi proibido a excelência e o nível de qualidade caíram drasticamente.

Usei a matéria-prima de excelente qualidade que os construtores de barcos Vikings, portugueses, espanhóis e os nossos moveleiros tinham nas mãos, para fazer uma analogia com a democracia brasileira. Partindo do seguinte princípio. O povo representa no script os construtores. Os políticos a matéria-prima.

Vou esquecer nossos períodos democráticos antes do golpe militar de 1964. Esquecer, porém, lembrar de que nunca conseguimos manter um padrão linear. Quando se lê a História percebe-se que ela é feita por remendos e sobressaltos.

Começamos por Collor de Mello. Uma matéria-prima de quinta categoria vendida para uma legião de construtores inexperientes como se fosse de primeira. Desde Collor, os construtores sonham encontrar matéria-prima nem que seja de terceira. Esses sonhos têm terminado em sucessivos pesadelos.

O problema é que até matéria-prima de terceira está ficando escassa. A culpa é do solo ruim no qual nossa democracia foi replantada a partir de 1989.

Não deixaria de terminar usando outra analogia. O topo da pirâmide brasileira incluindo os três poderes da nação se assemelha a uma plantação de pinus. Ali além da matéria-prima não conter qualidade alguma, ainda impede algo de bom florescer ao seu redor. Até mesmo construtores conscientes.