DEUS E O ESTUDANTE – O GUIA DE SANTIAGO
Numa estalagem, a caminho de Santiago de Compostela, um peregrino presenciou uma conversa entre um guia e um estudante. Parece que conversavam sobre Deus e sua maior criação, o homem. Quase que só o estudante era audível, o guia estava do outro lado da mesa e falava baixinho, como um padre no confessionário. Talvez até fosse um ex-padre.
O estudante contestava:
“Mas se é uma criação de Deus e Deus é maior que o Universo e está em todas as suas partículas, por menores que sejam, o homem está dentro de Deus, portanto a unha encravada do seu dedão do pé e a célula da ponta de seu cabelo estão em Deus. Deus está dentro de Deus e é maior que ele mesmo. Talvez possamos fazer uma analogia com a teoria de Einsten do Universo em Expansão. Silogismos à parte, sugiro a leitura do texto de Pierre Teilhard de Chardin: " Diferença Lógica Entre Religião E Espiritualidade". O filósofo arremata o texto com: "Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual... Somos seres espirituais passando por uma experiência humana... ". Para aprofundarmos, temos que largar dos dogmas, dos escritos e das crenças religiosas. Desfragmentar e limpar a nossa mente como fazemos com os HDs dos computadores. ” – A seguir pegou um guardanapo e escreveu algo, talvez o link da leitura sugerida.
Acrescentou: “Se o homem é imperfeito e é uma parte de Deus este, em decorrência, também o é ! ”.
O guia parece que contestou mais ou menos assim: “em nenhum lugar diz que o homem é parte de Deus, e sim que é sua criação. Sua teoria não tem base, quaisquer desses cristãos que nos rodeiam, facilmente vão te contestar...”.
O jovem respondeu: “Sem stress. Estes sempre dirão que é heresia, que é o final dos tempos, que Deus vai castigar, que a Bíblia diz isso e aquilo, ou seja, repetirão o que lhes foi inculcado, mostrarão o estrago que a crença lhes fez. Podem, se largarem a religião, a talvez chegarem a serem livres pensadores, mas dificilmente serão pensadores livres... E Deus, sentado no seu trono, nos espera no infinito, bem depois de onde as paralelas se encontram...”. Neste ponto do relato, o peregrino que estava concordando com o estudante, pensou: este aí deve ter estudado um pouco de física...
O estudante pegou o guardanapo que estava com o guia e acrescentou: “pesquise também isso, é uma indicação do Einstein quando lhe perguntaram o que ele entendia por Deus. O genial cientista respondeu assim: meu Deus é o Deus de Spinoza !.” – Escreveu ao que parece: “pesquise: Deus e Spinoza”.
Outras pessoas chegaram e interferiram na audição, mas o peregrino, que era cético, guardou mais ou menos aquele diálogo e aqui tentou reproduzi-lo.
Armand de Saint Igarapery – Textos no Face e no Recanto das Letras