QUEM É MARIELLE?
Até outro dia, antes dela ser assassinada, eu nunca havia ouvido sequer uma palavra em alusão a essa tal "cria da Maré" (digo 'essa tal cria da Maré', não por desdém, mas por força de expressão). Somente depois dela e seu motorista serem assassinados que fui saber de sua existência física cruelmente finalizada. Vejo a supervalorização das discussões sobre sua morte e muitas pessoas exaltadas com o fato, por ela ser uma mulher ativista, negra, representante das comunidades periféricas e historicamente excluídas da política sórdida de nosso país.
Uns tentam justificar seu assassinato no fato de a jovem vereadora "defender bandidos", outros até ventilam informações que ela estava com o comando vermelho. Se é verdade ou mentira, eu não sei, e na realidade isso é a meu ver, de somenos importância. Porque antes de ser mulher, negra, ativista, favelada cria da Maré, vereadora, ... ela e seu motorista (que eu nem sei o nome), são seres humanos, são pessoas vitimadas pela violência.
Quantos outros inúmeros cidadãos de bem já não foram eliminados por essa mesma violência? Quantos jovens negros, pobres, favelados não foram mortos nos becos e vielas? Quantas mulheres e homossexuais não sofreram com estupros, assédios, preconceitos e até morte? Quantos policiais, no exercício de suas funções, restaram anônimos numa cruel estatística deixando suas famílias na tristeza e dor? Quantos pais de família desceram o morro para apanhar uma condução coletiva superlotada para o trabalho, e não retornaram para seus lares?
Vivemos uma realidade caótica e desumana em que a vida vale menos que um papelote de maconha, em que os interesses políticos, a ganância e a corrupção justificam o aviltamento de pessoas que simplesmente sobrevivem à margem de tudo...
Em meio a isso tudo, uma pergunta: Quem é Marielle? Ela, desculpem-me quem não concordar com minha opinião, é o "bode expiatório", é o "boi de piranha" que a mídia e os políticos estão usando para justificar sua incompetência. É a justificativa para a nossa covardia, para a nossa omissão e fraqueza...
Mas ao mesmo tempo, Marielle sou eu, é você, discriminado(a), mas persistente; excluído, mas guerreiro(a), abatido(a), mas reencarnado na força de sua luta. Não é a cor, não é o sexo, não é a condição de origem e social de Marielle que se torna atemporal com sua morte, é o símbolo de luta e persistência que ela encarna como um ícone de seres humanos tão humanos como ela...
By Nina Costa, in 17/03/2018.
Mimoso do Sul, Espírito Santo, Brasil.