Telefone fixo
- Prontinho, Seu Alípio, aqui estão os seus documentos. Pode guardá-los. Agora que eu já preenchi os dados pessoais e o endereço, preciso só de um telefone fixo para completar o seu cadastro.
- Ah, sim. É nove, nove três oito meia...-
- Não, não. Esse é um número de celular, né?
- É.
- O banco precisa de um telefone fixo. Nem que seja só para recados.
- Certo. É nove, nove três oito meia...-
- Esse número não é fixo, Seu Alípio!
- É sim. Eu ganhei do meu filho quando fiz 70 anos. Nunca mudou. É fixo.
- Entendo. Mas é um número de celular.
- Isso. Celular fixo.
- Vamos por outro caminho... O Senhor tem telefone em casa?
- Tenho sim.
- Ótimo. Qual é o número?
- É nove, nove três oito meia...-
- Não, Seu Alípio. Esse é o seu celular! Eu perguntei o telefone da sua casa!
- É esse aqui mesmo, ó. Eu ando com ele e também uso em casa. Só o meu filho que liga. Normalmente, à noitinha. Ele também me ensinou a ligar pra ele. Eu vou aqui em "Contatos" e...-
- Tá. Me diz uma coisa. Na sua casa tem algum OUTRO telefone, com OUTRO número?
- Ah, entendi. Tem outro sim. Mas esse não sai de cima da mesinha da sala porque...-
- É esse mesmo, Seu Alípio! Esse que ninguém leva para lugar nenhum. Qual o número dele?
- É nove, nove sete três oito...-
- NÃO! Esse é outro celular, Seu Alípio!
- É.
- MAS O SENHOR FALOU... [longo suspiro]. O senhor falou que ele não saía da sala.
- Minha esposa não gosta de celular. Ele fica largado lá na mesinha da sala. Aliás, minha esposa não gosta de telefone nenhum. Dá o que ver pra ela atender quando alguém chama no aparelho grandão da cozinha e...-
- ESSE! Esse grandão!
- O que é que tem?
- O senhor sabe o número?
- Sei sim.
- Não me diga que começa com nove!
- Hehehe. Não, não.
- Tá. Qual é o número?
- Quarenta e oito.
- Hein?!?
- Quarenta e oito.
- Esse é o número do seu apartamento, Seu Alípio! Esse aparelho não é telefone. É INTERFONE, SEU ALÍPIO! INTERFONE!
- É sim. Mas é fixo. Na parede.