Aquilo Era Amor

—Você está cansada, Patricia?

—Um pouco.

—Mas você disse que queria.

—E eu quero — Ela disse, atirando o anzol na água. — Mas não deixa de ser cansativo.

—É desagradável pra nós — Murmurei.

Patrícia se pôs de pé no barco e puxou o anzol com toda força, trazendo com ele um peixe grande. Secou o suor da testa e colocou o peixe no balde.

—O que vocês fazem aqui todos os dias? — Ela perguntou enquanto preparava a isca.

—Pescamos.

—Então pesquem. O que há de errado Paulo? Eu estou em seu caminho?

Não respondi. Faziam dias que seu marido havia adoecido e Patricia decidiu por bom gosto que ocuparia seu lugar na pesca. Era o sustento da família. A vizinhança comentava. "Mulher no meio de homem, o serviço é outro", mas ela pouco se importava. Todos os dias vinha, pescava e vendia na feira. No fundo eu sabia que a vila inteira morria de inveja. Aquilo era amor. Nós nunca tombaríamos com algo desse tamanho. Estávamos destinados a molhar o pé na água, mas nunca afundar. Era nossa condenação e ao ver algo tão puro e precioso, nos restava rir e apontar. Certo dia minhas mãos formigavam, uma vontade imensa de ir até Firmino e contar que sua mulher o traía, mesmo não sendo verdade. Dois dias depois chega Patricia com sangue nas ventas, virada no diabo. Não demorou muito e a polícia mandou encostar o barco. Sufocara Firmino.