Assim ou ...nem tanto.131
O Diamante
Hoje, disse, tenho um tesouro para ti. Estendeu-lhe, mínimo, um pedaço de luz que rolou na palma da mão até à prega da linha da vida. – Parece vidro. Parece, confirmou, mas é um diamante em bruto. Com ele vamos ter outro futuro. Basta-nos esperar que afrouxem a vigilância, arranjar um modo de o dissimular nas roupas e sair com ele. Depois, vamos vendê-lo. Aonde ainda não sei mas prometo pensar no assunto. E, como por magia, a pobreza ficou suportável. Carências, trabalho quase escravo, a casa a pedir obras urgentes, as crianças adiadas por falta de meios, os horários dilatados, a ausência de folgas, tudo ficou mais fácil por haver naquele pedaço transparente a alternativa ao peso, ao esforço, à falta de dignidade que era a vida para eles. Ficaram ledos os dias e vinham sonhos para animar os serões e os sonos. Escondido primeiro sob uma pedra e, depois, num buraco da parede, o diamante foi sendo protegido de eventuais cobiças e andou, de um para outro esconderijo, até acharem que o melhor lugar seria aquele em que o pudessem ver sem movimentos estranhos, sem que fosse penoso experimentar cadeados e chaves, abrir e fechar gavetas, apanhar sustos sempre que um movimento mais brusco levasse para o fim do espaço do esconderijo a pedrinha que, sem luz, nem brilhava. Nenhum lugar parecia bom e seguro pelo que o diamante foi rodando por lugares inusitados até acabar sob a mesma pedra, agora atentamente cuidada. E o que foi bonito tornou-se pesadelo, o futuro passava pela possibilidade de cadeia, a venda seria sempre problemática, o dinheiro se calhar nem seria todo o que seria necessário. - Sabes que mais, António? Quem me dera que este diamante fosse apenas um pedaço de vidro sem valor.