Pé de Morro de Ouro

Pé de Morro de Ouro

Dia de domingo e as crianças eram surpreendidas pelo programa, vamos subir o Morro da Torre da TV? Alegria geral, um convescote familiar nas alturas.

Subíamos em caravana, depois de convidar amigos e improvisar o farnel, sempre um arroz caprichado, fruto do improviso da aventura.

Morávamos atrás do Hospital São José, o endereço era um desconforto a mais para os pacientes, Rua Elpídio Boa Morte, uma infeliz coincidência. Foi tanta a insistência que mudaram o nome recentemente.

Era puxado, subindo e descendo picos e elevações, umas duas horas de escadarias e caminhada pesada, na descida a mesma coisa. Ao final, um campo de futebol numa chapada e trezentos metros de aclive acentuado, cortando um pasto. Os adultos colocavam medo dos bois nos meninos de cidade. O mais velho virou o calção vermelho do avesso, medo de um touro arretado a toureiros; os bichos nem nos notavam.

Lá em cima, a mais de trezentos metros de altura e praticamente no centro da Ilha de Vitória, a recompensa era a vista belíssima, ao longe a Praia de Camburi; Mestre Álvaro; Ponta de Tubarão; Canal de Santo Antônio e Ilha das Caieiras; Vitória é linda demais. Ainda não existia a Terceira Ponte; o Morro do Moreno e o Convento da Penha nos apresentavam Vila Velha e suas praias.

Hoje em dia, em nosso antigo local de passeio, está situado a sede do Parque Estadual da Fonte Grande, de fácil acesso e bem estruturado para a recepção dos visitantes e turistas, com vários mirantes que possibilitam apreciar a vista a partir de diversos pontos.

Durante a subida era nossa vez de passar pelas casas dos vizinhos que moravam mais acima e retribuir o cumprimento quase diário em nossa porta. Dona Violeta, os filhos recolhiam a "lavagem", o lixo orgânico, diariamente; criavam os leitões da ceia natalina; Dona Guiomar, sempre com um bebê emprestado; "casa tem que ter criança, fica mais alegre”. Quando crescia um pouco, apanhava outro para cuidar; assim socorria uma mãe aflita, sem recursos.

Moradores do "pé de morro de ouro", como dizia vovó Chiquita; do endereço sem brigas, sem confusões. A paraibana era respeitada na comunidade; sua fala, no portão, ecoava em todo o morro. Na época eu não entendia como; hoje em dia compreendo o seu valor, a sua autoridade.

Jmmotta

12/03/18