Teve vontade de chorar, mas naquele dia...naquele dia não cabiam mais lágrimas em seu rosto. Queria ficar longe de tudo e de todos. E mesmo sem roupa esportiva, desceu descalça e caminhou sozinha  na areia, deixando o rastro desalinhado  de suas pegadas. — Se não tens pressa para chegar, disse para si mesma, caminha, pois, a passos curtos  como quem procura, sem querer encontrar.
A linha ondulada das águas, brilhava esbranquiçada no fluxo e refluxo da maré.  Ravenala teve medo. Pareceu-lhe ouvir gritos de náufragos pedindo socorro. Mas não havia náufragos. Ela ouvia os gritos de seu coração. Recordações do acidente na plataforma do metrô  trouxeram-lhe à mente as palavras de Fernão: Eu tropeço, tu me pegas; tu escorregas, eu te seguro pelo braço.  Era a lembrança mais reconfortante, e também a mais carinhosa que guardava do marido. Eram lembranças boas e ruins guardas nos anéis da memória, que remontavam, tanto de um passado distante, quando de fatos  recentes. Viúva?... ela não conseguia imaginar-se viúva. Tivera um companheiro, mas agora estava só. Sozinha a navegar em um oceano de lágrimas.
 O sorriso de Deus se abriu no rosto do Padre Pio: Apressa-te! O caminho é longo. Reflita sobre aquilo que escreves, porque eu, o Senhor teu Deus, pedirei  contas disso... Fica atenta:  Receberás recompensa pelo bem que fizeres, e castigo pelo mal que praticares. Há tempo para tudo debaixo do Sol. Tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para chorar, e tempo para rir...
 O sol pendia.
Pombos catavam migalhas de alimentos deixados pelos banhistas na praia. A luz do dia  fraquejava.  O vento soprava suavemente, e  a noite derramava estrelas pontilhando o céu. Era hora de voltar pra casa.
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Adalberto Lima, trecho de "Estrela que o vento soprou."