A VAIDADE DANDO PASSAGEM À MORTE

Vânio, um setentão solteiro, que caminhava rapidamente aos oitenta anos, dividindo a vida entre a casa, no centro da capital e um sítio na região dita rural, também da capital. Alternava viagens ao exterior e outras regiões do pais.

Aposentado, duas vezes, disse que chegava de trabalhar.

Uma cirurgia aqui, outra ali, não deram-lhe temor pelas salas de cirurgia.

Ultimamente por qualquer contratempo, reclamava e dizia que o seu maior sonho era ir-se do Brasil, talvez um dos países escandinavos.

Outro dia, por sobre o muro, deixou escapar uma qualificação nada boa, para o Brasil. Comparou-o com uma bosta, mas não declinou se de cavalo, vaca, ou outro quadrupede.

Gostava das lidas da horta e de consumir verduras que produzia, sem nem pelo menos encher as unhas de terra, pois as protegia.

Reclamava de dores e de uma hérnia que teria que corrigir, segundo ele, ainda pequena.

Na horta esbravejava com as borboletas brancas, que punhas seus ovinhos, sob as folhas das couves. Ovinhos que logo transformavam-se em lagartas vorazes.

No final de fevereiro Vânio sumiu, sem dar sinal aos vizinhos. Depois soube-se que ele havia realizado a tal cirurgia para correção da hérnia, mas no dia seguinte voltou a ser hospitalizado, pois, segundo familiares, uma hemorragia interna, resultara no abdomen.

Naquela mesma noite puseram-no em coma induzido. O estado agravou-se e passados nem 10 dias da cirurgia, ele finou-se.

Supõem alguns familiares, que a hemorragia resultou de alguma complicação decorrente da lipoaspiração realizada simultaneamente a correção da hérnia.

Já fazia algum tempo que ele reclamava da barriga que crescera nos últimos anos, desabafou um dos amigos. Outro emendou, que a vaidade o matara.

Para os mais próximos, um exagero, pois a barriga, mal salientava-se sob a camisa.

Pelas manhãs, aos vizinhos, parece que a qualquer momento ele sairá para por o lixo à rua.