Foi no Dia da Mulher
 
     1. No Dia da Mulher, sobre elas, ouvi muita coisa boa e ruim. Indiferente ao disse e me disse, aproveitei a data para homenagear as mulheres queridas que me cercam e as mulheres, não menos queridas, que estão, até mais de mil quilômetros distantes de mim. Essas, guardo-as todas na memória e no coração, sem mágoas e sem rancores.
     2. Assustei-me, quando, uma dessas distantes, perdida no tempo e no espaço, pediu-me que lhe mandasse, via WahatsApp, o "Poemeto da Maldade Divina", do poeta cearense Cláudio Martins (1910-1995). Eu lhe dera esse poema num momento de desencontro e desencanto, em uma noite do século passado, tendo a lua como testemunha.
     3. Revirei a estante onde estão os poetas e escritores alencarinos, em uma busca desesperada do solicitado poema. Fui encontrá-lo em "A poesia cearense do Século XX", uma Antologia organizada pelo escritor piauiense Assis Brasil.
     Essa Antologia, além de belíssimos versos de sessenta e quatro poetas do Ceará, traz também preciosos dados biográficos de cada um deles. É um trabalho bom.
     4. Desde o primeiro instante, achei que não devia atender à amiga, hoje uma senhora de cabelos grisalhos, mas de invejável lucidez.      Fiquei na dúvida de como o poema do Cláudio Martins, de versos ousados e atrevidos, seria recebido, agora, pela provecta amiga setentona, embora, por ela solicitado. 
     5. Uma coisa fora "afrontá-la", com os versos do Cláudio, quando ela, muito jovem, não havia ainda enfrentado os problemas e decepções surgidos ao longo dos seus setenta anos de vida. Podia feri-la? Logo agora quando ela e eu estamos curtindo, cada um no seu lugar e ao seu modo, nosso delicioso inverno etário. 
     6. Conheça o leitor o poemeto: "Poemeto da Maldade Divina - - É inegável/ que Deus criou o mundo em seis dias./ E como lhe parecesse conveniente/ ter alguém para apreciar-lhe a grande obra/ tomou de um pouco de argila/ e fez o homem/ à sua imagem e semelhança./ É inegável também/ que jamais esteve em suas altíssimas cogitações/ criar um mundo feliz/ onde pudessem reinar a paz e a tranquilidade/ pois que/ oniscientemente/ deu ao primeiro homem uma companheira...
Depois veio a bomba atômica". 
     7. O leitor pode me perguntar se satisfiz ou não o desejo da minha amiga distante, enviando-lhe o poemeto. Respondo que não, tal como pensara inicialmente.   
     8. E não me arrependi. Andei certo.  Cheguei fácil à conclusão de que não valia a pena ressuscitar momentos que o tempo - Oh! O tempo - havia solenemente sepultado.
     9. Volto a confessar publicamente que não aprendi a exumar o passado, mormente quando ele, por isso ou aquilo, deve permanecer descançando na tumba do esquecimento...
        
     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 11/03/2018
Reeditado em 11/03/2018
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