NARCOTERRORISMO

Éramos seis, seis ricos pobres estudantes, todos vindo do interior. Quatro homens e duas mulheres, não nessa ordem necessariamente, morávamos na casa do estudante, as duas meninas em um quarto, e os outros quatros em dois quartos separados. Morávamos no mesmo andar, ou seja, no primeiro andar. Desde o primeiro dia tínhamos nos dado muito bem, talvez pelo nosso perfil, de origem pobre, da roça, vindo de Colégio público e com vontade de crescer e se desenvolver. Naquela noite de sábado estávamos comemorando o aniversário da Tête, aquela menina linda e pequena, que saiu do interior do Piauí para fazer Medicina aqui em Fortaleza, ela tava completando 20 anos, vinte aninhos lindos, uma flor de criatura. O que tinha de pequena era grande nos estudos. Primeiro lugar no ENEM. Contam que sua cidade fez uma festa na sua partida. Estávamos todos na pracinha da Gentilândia, brincando, tomando cerveja e comendo espetinho de gato, João Saraiva já tinha chamado para irmos embora por duas vezes, que já era tarde, já dera 2 horas da manhã, e o nosso dinheiro e disposição estavam nas últimas. A Praça tava lotada, gente para todos os lados, a fumaça dos churrasqueiros se espalhava pela Praça formando uma névoa tropical. Quando de repente pararam duas camionetas cheias de bandidos encapuzados que rapidamente dispararam milhares de rajadas de metralhadoras, fazendo o paraíso em minutos virar o inferno. Ainda bem que as balas não foram dirigidas para nossa mesa, e sim para uma mesa ao lado cheia de jovens. A chacina foi rápida, coisa de segundos, a praça virou o caos, gente correndo para todos os lados, mesas e cadeiras espalhadas por todos os cantos, churasquinhos de gatos e cachorros quentes esparamados pelo chão, junto com corpos e muito sangue. Por um momento pensei em correr e me faltaram as pernas, fiquei meio que zonzo, e quando voltei foi que percebi, Tête em cima da mesa com seus miolos dentro do prato de churrasco. Tinha sido atingida por uma bala perdida.