Doenças de pele
Um presente mal embrulhado perde um pouco do seu valor. E há presente de menor valor do que o do seu embrulho, como o que ganhei, certa vez: um relógio de R$ 7,00, comprado na feira do Paraguai, elevado a melhor categoria por uma caixa de Omega. Nisso, existem espertos, fazem suntuosos pacotes, dão dobras no papel e ainda mais um laço e uma flor por cima. Foi pensando nessas besteiras, quando me veio uma coisa simples, sem novidade, mas importante: a pele embrulha o corpo, e sem ela, desprotegido, ele se tornaria uma árdega sangrenta nudez; também incontrolável lesão cutânea, buraco por onde escaparia o sangue, como se fosse rasgão num saco de leite ou num elegante pacote. Enfim a pele é o saco receptáculo de tudo dentro de nós; logo dá na vista e faz aparência, assim, melhor é uma garrafa nua do que o vinho em qualquer envoltório...
Por causa disso, fui ao famoso e competente dermatologista Otávio Sergio Lopes. E na sua antesala, uma certa senhora mostrava manchas na pele, dizendo não ser coisa tão feia, seria apenas "impetigo". Procurei o significado de tal termo, mas a memória dos tempos de Pilar e de Itabaiana só deixava sair da cabeça a afecção cutânea, com ou sem pústula, chamada de pereba. Era assim que se dizia: "cuide dessa pereba"! Quando ela ocorria nos braços, só se saía de casa de manga comprida; e se na cara, ficava-se hibernando até a pereba desaparecer, se não lhe arrancassem a casca...
Doenças doem, mas algumas, com nomes jocosos, fazem rir, como, no sertão, a secreção da conjuntivite: "remela de dordoia"; embora de pronúncia redonda, sonora, elas soam esquisitamente, mesmo se, de costume, usadas pela boca do povo. Como essas, outras se alastravam, como a pereba nos cantos da boca, aconselhando, no recreio da escola:"Não beba no copo dele, ele está com boqueira". Mais fácil curar boqueira do que cobreiro, como o que pululou quase todo o rosto do Padre João, não respeitando o Vigário de Itabaiana. Tais palavras se esquecem, mas a que servia, de modo generalizado, para as feridas de pele, até para os mais inflamados eczemas, não escapa da memória: 'pereba'. Ela só não se adequava às feridas da alma...
Um presente mal embrulhado perde um pouco do seu valor. E há presente de menor valor do que o do seu embrulho, como o que ganhei, certa vez: um relógio de R$ 7,00, comprado na feira do Paraguai, elevado a melhor categoria por uma caixa de Omega. Nisso, existem espertos, fazem suntuosos pacotes, dão dobras no papel e ainda mais um laço e uma flor por cima. Foi pensando nessas besteiras, quando me veio uma coisa simples, sem novidade, mas importante: a pele embrulha o corpo, e sem ela, desprotegido, ele se tornaria uma árdega sangrenta nudez; também incontrolável lesão cutânea, buraco por onde escaparia o sangue, como se fosse rasgão num saco de leite ou num elegante pacote. Enfim a pele é o saco receptáculo de tudo dentro de nós; logo dá na vista e faz aparência, assim, melhor é uma garrafa nua do que o vinho em qualquer envoltório...
Por causa disso, fui ao famoso e competente dermatologista Otávio Sergio Lopes. E na sua antesala, uma certa senhora mostrava manchas na pele, dizendo não ser coisa tão feia, seria apenas "impetigo". Procurei o significado de tal termo, mas a memória dos tempos de Pilar e de Itabaiana só deixava sair da cabeça a afecção cutânea, com ou sem pústula, chamada de pereba. Era assim que se dizia: "cuide dessa pereba"! Quando ela ocorria nos braços, só se saía de casa de manga comprida; e se na cara, ficava-se hibernando até a pereba desaparecer, se não lhe arrancassem a casca...
Doenças doem, mas algumas, com nomes jocosos, fazem rir, como, no sertão, a secreção da conjuntivite: "remela de dordoia"; embora de pronúncia redonda, sonora, elas soam esquisitamente, mesmo se, de costume, usadas pela boca do povo. Como essas, outras se alastravam, como a pereba nos cantos da boca, aconselhando, no recreio da escola:"Não beba no copo dele, ele está com boqueira". Mais fácil curar boqueira do que cobreiro, como o que pululou quase todo o rosto do Padre João, não respeitando o Vigário de Itabaiana. Tais palavras se esquecem, mas a que servia, de modo generalizado, para as feridas de pele, até para os mais inflamados eczemas, não escapa da memória: 'pereba'. Ela só não se adequava às feridas da alma...