ÀS MULHERES BOAS
Miguel Lucena*
Um grupo de rapazes discutia hoje, numa rodinha, sobre o que seria uma “mulher boa”. Sentado ao lado, fiquei ouvindo e observando o desenrolar da conversa.
- Boa é aquela ali – disse o mais velho, aparentando 18 anos, que levantou o queixo na direção de jovem de curvas bem delineadas.
- Pra mim, mulher tem de ser safada – comentou outro, com cara de adolescente.
- Essas que usam silicone no bumbum ficam tudo do mesmo jeito – gracejou o mais novo, dando risadas e insinuando que as próteses saem da mesma fábrica.
- Gosto mesmo é das peitudas, como nos filmes americanos – opinou o mais velho, retomando a palavra.
Saí do lugar imaginando o que foi feito nas famílias, escolas e mídias brasileiras para que a juventude ficasse tão superficial ao ponto de não enxergar nada nas mulheres além de protuberâncias e tamanhos.
Mulher boa é a que pensa, batalha, assume suas responsabilidades, cuida dos filhos que quis ter, educa e não se submete a caprichos de parceiros e parceiras violentos, mas também reconhece as virtudes e qualidades dos que as respeitam, dividem as responsabilidades na criação dos filhos e provêm o sustento da família.
Mulher boa foi minha mãe, que criou nove filhos ao lado do marido e nos viu formados, vencendo a pobreza do interior, evitando que a necessidade nos levasse antes dos 7 anos, sem buscar desculpas para nos largar por aí e sair desembestada pelo mundo.
Vendo o exemplo de minha mãe, procurei casar com uma mulher de luta, independente, autônoma, respeitadora e de respeito, que nasceu em berço simples, estudou em escola pública, tornou-se professora primária, professora licenciada, líder sindical, líder popular e deputada por dois mandatos, que ao lado do marido criou seu filho único e passou a vida sendo arrimo de família, sem arranjar desculpas para não ser boa e responsável e incentivar ressentimentos e desamor.
Por intermédio de Dona Emília e Zezé, homenageio as mulheres boas do Brasil!
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.