Onda conservadora ameaça censurar meu folheto

Há uma onda de conservadorismo no Brasil. O país quer andar para trás. A bancada evangélica pretende curar gay, proibir aborto, botar Exército nas ruas e votar no candidato Capitão Caverna, o homem “da lei e da ordem.” Os pastores “de resultado” querem simplesmente o poder total, em nome da “santificação plena” e da teologia da prosperidade.

O crentezinho ridículo leu meu folheto “A verdadeira história fescenina das pedras do Ingá” e botou um lenço no nariz. Rasgou aquela “safadeza” e me condenou automaticamente ao fogo do inferno dos desavergonhados. Clamou pela volta da censura, com sintomas de dissimulação aguda, em insidioso processo de histeria moralista.

Que o fundamentalismo religioso é uma praga, isso é notório. O plano é queimar em praça pública as publicações “imorais”, ateias ou “subversivas”. O nó é quando o próprio Estado assume essa trajetória retrógrada. Em Pernambuco, o jurídico do Instituto Nacional de Seguridade Social pediu na Justiça a censura ao folheto “A lei da Previdência para a aposentadoria”, do cordelista Davi Teixeira. A Justiça Federal acabou liberando o folheto que incomoda o INSS. Você não acha super estravagante um Governo que tem medo de um folheto de cordel?

No meu caso, o cordel das pedras do Ingá pode ser alvo de uma ação desse tipo, conforme ameaçou o evangélico. No folheto, as safadezas abundam, se é que me entendem. Nem chega perto dos manuais clássicos de sexo, tipo Kamasutra, Tantra e outros livrinhos sobre as crônicas do amor venéreo da antiguidade. Para o meu censor, no entanto, o folheto é de tal forma desviador das virtudes morais que o autor merece queimar nos quintos dos infernos por toda a eternidade e mais dois feriados santos, na companhia indecorosa do meu compadre Vavá da Luz, inspirador do tal cordel. Temo até pela integridade física e espiritual do compadre Tiago Monteiro, editor da pasquinada poética indecente.

O crente incendiário das letras fesceninas obrou mal. Vai acabar dando publicidade ao folheto “A verdadeira história das pedras do Ingá”. A primeira edição já foi esgotada. O episódio não deixa de ser um testemunho do nosso tempo. O fato é que eu cismei em ser um cordelista marginal. Agradecido ao meu futuro acusador nas barras dos tribunais pela consagração. Aliás, quero ser um cordelista “maldito”, pretensão também do compadre Walter Mário Goes que prepara o lançamento do seu primeiro livro, “Opus Impuratus, o livro proibido de Vavá da Luz”, uma obra prima do “pornosianismo”. Incorrigível poeta fescenino, Vavá da Luz garante que fará o lançamento do meu folheto nas Itacoatiaras de Ingá, onde ele é diretor, supervisor, guia turístico e mentor escatológico. Para palestra será convidada minha amiga Madame Preciosa, mestra criativa, irreverente e transgressiva das leis da moralidade boçal.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 05/03/2018
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