Subentendido

Os passos de chegada do rapaz foram lentos, mas, o tempo se apressou no encontro deles. Em uma tarde límpida, ela o avistou diretamente, pela primeira vez, após uma jornada não tão longa de conversas virtuais. Conversas nas quais se evitava diálogos profundos, porém, não se enquadrava a algo superficial. Seria como navegar com cuidado em mares desconhecidos, por não saber a intenção da maré e o peso das ondas. Naquela tarde, ela pôde então reconhecer os castanhos dos olhos, pele e cabelos dele. Tais olhos, não acreditara acerca de seu porte físico, pequeno aos seus olhos e diferente do que ele imaginava ser. Mas, mal sabia ele a imensidão que habitava em seu ser. Uma menina. Supostamente pensou. Cuja a idade já não se era.

Entretanto, apenas uma primavera a mais não seria o bastante para ostentar maturidade. Ele estava diante de uma mulher. Mas, que isso dependeria, pensava ela; da situação a qual ela pudesse se encontrar. Pois, a essência de criança jamais a deixaria. Trabalhava-se o equilíbrio entre ponderar-se e conduzir-se à esportiva. Acerca de seu íntimo, era cultivado para que um só ser amante, com o sentir autêntico, corajoso o bastante e ardente, fizesse morada. Não menos que isso. Talvez, um tanto quanto exigente e corajosa ao ponto de reconhecer o seu valor, mas também o valor do outro, ao dedicar-se ao tal. Esta seria uma postura que partia do seu lado mulher. Estaria ela errada? Questão que, intimamente, ela se pergunta todos os dias.

-Será que o ambiente no qual eles se conheceram era favorável o bastante?

-Será que eles se enxergavam como “vamos ver no que vai dar”?

Pensamentos que se harmonizam com o discurso da nova geração, instantânea e submissa ao descartável.

Essa figura feminina exigia, mas também, confiava de certo modo no outro. Não é à toa que foi ao encontro do mesmo, apesar de tantas circunstâncias não favoráveis. Confiava ao ponto de deixar-se ferir. Ferir as primeiras camadas da pele, que se leva ao centro do peito, só para sentir o mínimo sinal, que daria a ela a certeza de que não precisaria prosseguir, ou o contrário. Mas, por azar tudo ficou subentendido. Sobre a sombra de um teto e ao redor de mesas em pleno parque, passaram-se alguns segundos, ambos analisando o real de longe, até que enfim, estavam eles frente a frente, quando em um piscar de olhos ela o convida sob um movimento ímpeto à um outro encontro, entre braços e um todo enlaçado. Era o acolhimento. O abraço.

Então, com uma feição tímida e inesperada, ele a acolheu em seus braços e aguardou em silêncio os próximos passos. Sorriso de lado. Pés disparados. Eles estavam à procura de um banco, ou, qualquer outro ambiente disposto a oferecer-lhes acomodação, sombra e calmaria, ela afirmou que não se incomodaria caso pudesse sentar em meio a natureza e assim ficar. Ele consentiu ao pedido e juntos seguiram em direção ao verde grama. Enquanto sentados, o sol brincava sobre suas faces, e iluminava o sorriso dele que era recheado de comicidade. E aquele espírito cômico perdurou durante toda a tarde. O vento contente conspirava a favor e junto trazia euforia os fazendo transbordar em risos bobos. (Nervosos).

A piada sobre o Monge jamais iria ser esquecida por ela, quer dizer, ao menos a intenção da piada. Testou-se a paciência daquela garota que se queixava não ter. Mas, que nessa tarde descobriu que em si habitava o fruto da paciência e que só precisava ser cultivado. Observando a lagoa e apostando em assuntos aleatórios, ela não sabia o que se passava na mente dele. O rapaz reservava-se diante de certos assuntos, mas, não economizava em simpatia. Preocupou-se com o modo que o cabelo estava, mas, mal sabia ele também, que não importava se estivesse curto ou longo, pois não era na verdade esse padrão de beleza que ela procurava. Sem clichés. Só verdades.

Mesmo sem querer romantizar, ela enxergou mais além daquele olhar menino e barba madura. Uma mistura de detalhes. Ela gostava daquela barba e dos trejeitos que ele arriscava com os dedos sobre a própria face. Provocando gargalhadas. Após consideráveis horas de conversas e bom humor por parte dele, surgiu-se um ‘pedido-afirmação’, feito de maneira meio destemida. Talvez ela previsse sua intenção, mas, não havia certeza alguma. Por isso, lançou uma resposta curta e cômica a cada vez que ele a perguntava: Ele: "Eu quero te pedir uma coisa. Mas, acho que será melhor em uma próxima vez."

Ela: (Fez cara de quem não sabia lidar com a pergunta), e disse: "Você quer tal valor?"

Brincou-se ao pedido de dinheiro e ele sorriu de lado, meio travado em timidez. Ao menos, foi dessa forma que ela o viu e sentiu estar. Respondeu ele sorrindo: "Não. Eu não quero isso". Ela sentia o próprio coração um tanto que dançante. Cambaleante. (Nervoso). Persistiu o rapaz com a sua afirmação norteadora, até que relevou sua pergunta base e ‘tapeadora’ que se aproveitava da fala dela, dizendo: "Me dá tal valor?". Eles sorriram e logo veio o silêncio. O Despertar. Sem jeito ele disse por final: "Eu quero te pedir uma coisa". Ela: "O que é?". Ele: " Eu quero te pedir um beijo. Ela: "Claro, na testa". Beijando de imediato enquanto o observava, ele, com semblante tenso, e recheado de encanto.

Ele murmurrou ainda sem jeito e disse: "Você me deu um fora".

Ela: "Não. Não é isso. Depois pesquisa o significado".

Enquanto ele insistia levemente em sua fala melancólica, com um olhar que expunha curiosidade, ela decidiu beijar-lhe. Ela: "Está bem. Eu te dou um beijo". Conduziram a mais um encontro que dessa vez, um que propunha uma conversa pelo toque de seus lábios e afagos sobre o rosto, ombro e cintura. Criou-se todo um toque e movimento leve. Sutil feito a brisa que os acariciavam à tarde. A primeira mordida que ela o dera sobre os lábios dele, foi serena, mas, a segunda, expôs o sentir de dentro dela para fora. Mesmo que um tanto forte e marcante. O beijo dele era macio, o qual não se entregava por completo ao primeiro encontro. Sentindo a mesma energia, com timidez ela também não se mostrou por completo.

Com toques rápidos, ela encerra o encontro de seus lábios naquela tarde de Terça-Feira. Em seguida, pede um abraço e sente o coração sambar de novo. (De nervoso). Após o samba, apressaram-se em comentar sobre a partida. Na verdade, ela inicia a fala e ele concorda que de fato era um pouco tarde e preciso voltar. Eles seguiram juntos sem saber como ao certo se comportar diante do outro e cada um retornou ao seu lar. Quem sabe um dia eles se “verão” novamente, ou quem sabe um dia “inverno”.

Jessy Freitas
Enviado por Jessy Freitas em 04/03/2018
Reeditado em 23/03/2018
Código do texto: T6270986
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