VÃO-SE OS ANEIS, FICAM OS DEDOS
Já estivemos embrenhados nesse tema outras vezes, mas percebo que ele sempre é recorrente. Por não raras ocasiões lamentamos alguns acontecimentos. Então repletos de interrogações em mente nos mantemos anestesiados e perdidos. E desse modo sem saber por onde caminhar. Consequentemente podemos contrair ansiedades diversas e negativas de pânico, stress e outros males que assolam a sociedade contemporânea. Por quantas ocasiões temos a sensação de que poderíamos ter feito algo melhor? Contudo pode ser que procrastinemos decisões e ações e quando percebemos, a hora da verdade é presente e não há mais areia na ampulheta do tempo. Não dá para voltar e o mais sensato nessa hora é apenas aceitar, vivenciar e corrigir-se para possíveis novas chances. Mergulhamos em tantas ideias e atuações sem importância no dia a dia que aquilo que é realmente e de fato relevante por vezes fica para trás. Desse modo não nos olvidemos do que nos alerta o filósofo Sêneca, que viveu no império romano, “apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida.”
Pode ser que na ânsia de resolver tudo que nos acomete, pensemos que o tempo se congela para que possamos buscar todas as respostas a si e aos que se aproximam. Mas não! Felizmente ou não, não temos todo o tempo do mundo. É curioso nesse sentido lembrar aqui a obra “Tempo Perdido”, de Renato Russo, compositor da Legião Urbana, que diz “todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou, mas tenho todo o tempo. Temos todo o tempo do mundo”. É notável como o tempo é relativo a cada um de nós e como cada um lida com isso em sua existência. Pensemos que de zero a talvez oitenta, noventa ou cem anos de idade o pó da nossa vida inevitavelmente se esvai. Bem, o cronômetro vital nesse entendimento pode até se dar de forma linear e equilibrada. E se por acaso não soubermos compreender a receita da longevidade podemos abreviar tudo muito antes do previsto.
Quantos nascem e morrem no primeiro minuto de vida! Quantos ao terem a possibilidade de viver, esbanjam toda a sua juventude em extremos ainda na mocidade se tornam escravos da morte! Somos corpo e alma, não é? Ainda não compreendemos o quão é relevante cuidar da máquina humana e do espírito! As duas formas se completam e podem nos fazer estender esse vigor por muito mais tempo. Não é de se admirar que alguns dissipam-se em dias e noites sem o devido descanso deliberadamente. Em contrapartida existem aqueles que talvez não sabem ou não querem saber que se dormirmos oito horas por dia já estaremos guardando mais de um terço de nossa vitalidade. Tudo bem, precisamos descansar! Oscar Wilde nos alerta que “viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.” Todavia imaginemos aqueles que se rendem muito mais e não se valham em contribuir com o mundo que o cerca. Permanecem em uma zona de conforto contínua e não percebem o quanto estão submergindo e desperdiçando em não aprender a conduzir-se de maneira mais digna e humanizada. A arte de bem viver pode imunizar muitas dores, enfermidades e perpetuar a linha da vida.
E o tempo pode ser mirado como quisermos! Há os que não desejam nem saber ou ao contrário os que correm contra ele. E mesmo que haja percalços, não se abatem, sabem que vão-se os anéis e ficam os dedos. Com o que passou podem instruir-se e fazer melhor daqui para frente. Utilizam o tempo como oportunidade de aprendizado, como ensejo de amadurecimento. Sabem que a vida é efêmera e que não há tempo a perder! Não se desfazem ou se estremecem com pequenos aborrecimentos, pois seus objetivos estão além. Conhecem que cada dia é um novo passo para o alcance do melhor! O tempo é o que fazemos dele! Que o mal é passageiro e o que sobra é a força de vontade de não se prostrar perante os infortúnios ou ao deslumbramento de ser perfeito ou pior que alguém. Parar de dilapidar cada minuto apenas com futilidades e devotar-se àquilo que é verdadeiramente valioso se faz cada vez mais imprescindível!