A VAPOROSA !
Início dos anos setenta.Um pequeno grupo de curiosos,ao qual eu estava incluso,observávamos atentamente o profissionalismo de “Tatá” (conhecidíssima figura iratiense) dando tratos às “Olivetti,Facits,Reminghton e outras,menos famosas”,no primeiro andar de um conhecido prédio na rua da Liberdade,onde funcionava um escritório contábil.
Fazíamos parte de uma equipe de estagiários que ,imbuídos em aprender na prática os meandros da contabilidade,acabavam sendo adotados pela generosidade de “Seu Alceu”,passando a integrar uma grande família.-A família Sentinela- como costumávamos dizer.
O mais recente dos membros pertencia à ala feminina.
Alta,esguia,olhar esmeraldado...Era,de fato,o que se poderia denominar “um pedaço de mau caminho”.
Por questão de ética, e para preservar-lhe a identidade,vou aqui denominar-lhe de “Senhorita K”.
Setembro dava as caras.
O ar inundava-se ao cheiro das acácias da praça da Bandeira e um calor suavizado,de quando em quando,por lufadas com jeito de sobras de agosto varria a cidade.
Na parte superior do prédio,olhares atentos na parafernália sobre a mesa. O técnico falando com aquêle seu sotaque característico à quem tem a língua presa, (estilo Luiz Inácio) fazendo citações das teorias de Freud cujo alemão desconhecíamos por completo.
Passos delicados sobem os degraus da escada.
O aroma da colônia chega antecipado,abrindo alas à musa que o retém nos poros.
A porta escancara-se.
Uma rajada brusca de vento,insinua-se deixando à mostra boa parte das bem torneadas pernas da senhorita K.
Esta,um tanto ruborizada,com uma das mãos ajeita o tecido muito leve do vestido enquanto , com a outra ,segura a garrafinha de “7 UP”,geladíssimo ! Que ingere através de um canudinho.
Um luxo!
Todo “elegante” da época que se prezasse,bebia “7 UP”.Mais ainda ,com o apelo comercial do senhor Mario Vendramel e suas “Vendrametes”,nas tardes de sábado pela TV Paranaense canal 12.
Os mais chucros,(tipo eu) pediam ao atendente: Meu chapa ! Me dê um “sete upe”. Já os refinados (nos dias de hoje diria-se: "Da zelite ") cheios de caras e bocas pronunciavam com a voz nasalada. “Um sévenápe” por obséquio ! Enfim...
A visão estonteante da moça animou o técnico em máquinas de escritório que num tom efusivo,galanteador e com ligeiro teor libidinoso, num ímpeto proferiu:
_Senhorita K, como estás Vaporosa nesta tarde !?
Benza Deus... Oh! Va-po-ro-sa.
A moça, cujo “QI” era infinitamente oposto à grandiosidade de sua silhueta, reagiu de imediato:
-Mais respeito comigo Tatá !...Não sou “dessas “ não. Dobre a língua antes de falar besteiras sobre a minha pessoa, e...blá,blá,blá...blá...blá..blá.
(Coitado do Tatá se dobrasse a língua.Sem dobra-la já era complicado,imagina dobrando-a)
A "insultada" saiu rispidamente, fazendo beiçinhos e trancafiando-se numa das salas.
O pequeno grupo de estagiários, à quem os “QI” igualavam-se ao da ofendida, entreolhamo-nos e tomamos o rumo da saleta do café a fim de traçarmos estratégias em defesa da nossa mais nova colega de trabalho.
Tatá,que percebera nossa ingenuância (mistura de ingenuidade e ignorância),aproveitara para “deitar e rolar”.Ouvíámos o eco de suas risadas acompanhadas da palavra “Vaporosaaaaa!”,cujo termo nos indignava.
Não satisfeito,começou a bradar :
_Vaporosa,sim senhora!...E digo mais: “Diáfana!” também.
Aí a coisa ficou preta.Um dos integrantes queria quebrar a cara de Tatá , faze-lo engolir goela à baixo tamanhas ofensas à nossa amiga.Foi preciso conte-lo e a turma do deixa disso entrou em ação.
Como que fora um espírito da sensatez agindo para esclarecer a ignorância coletiva,um dicionário despencara de um dos armários onde imperava uma desordem generalizada. Um dos exaltados teve a feliz idéia de pesquisa-lo para verificar a profundidade dos “impropérios” de Tatá.
Caímos do cavalo, literalmente,quando descobrimos o real significado das duas palavras,que nada mais eram que elogiosa constatação da exuberância, frescor e delicadeza da bela da tarde.
Juntamo-nos à ela e ,depois de tudo esclarecido,vislumbramos em mínimos detalhes a sensualidade daquela boca sorvendo calmamente os resquícios do seu “7 UP”.
O vento espargia seu perfume, seus cabelos e quiçá ! ...Seus pensamentos mais íntimos na sacada do prédio apreciando o trem que cruzava em frente.
Nossos olhares masculinos , púberes,cruzavam-se enquanto engolíamos a sêco o desejo de gritar ao mundo:
VAPOROSA !!!... DIÁFANA!!!...
(Tatá tinha razão rsrs...)
Joel Gomes Teixeira
Início dos anos setenta.Um pequeno grupo de curiosos,ao qual eu estava incluso,observávamos atentamente o profissionalismo de “Tatá” (conhecidíssima figura iratiense) dando tratos às “Olivetti,Facits,Reminghton e outras,menos famosas”,no primeiro andar de um conhecido prédio na rua da Liberdade,onde funcionava um escritório contábil.
Fazíamos parte de uma equipe de estagiários que ,imbuídos em aprender na prática os meandros da contabilidade,acabavam sendo adotados pela generosidade de “Seu Alceu”,passando a integrar uma grande família.-A família Sentinela- como costumávamos dizer.
O mais recente dos membros pertencia à ala feminina.
Alta,esguia,olhar esmeraldado...Era,de fato,o que se poderia denominar “um pedaço de mau caminho”.
Por questão de ética, e para preservar-lhe a identidade,vou aqui denominar-lhe de “Senhorita K”.
Setembro dava as caras.
O ar inundava-se ao cheiro das acácias da praça da Bandeira e um calor suavizado,de quando em quando,por lufadas com jeito de sobras de agosto varria a cidade.
Na parte superior do prédio,olhares atentos na parafernália sobre a mesa. O técnico falando com aquêle seu sotaque característico à quem tem a língua presa, (estilo Luiz Inácio) fazendo citações das teorias de Freud cujo alemão desconhecíamos por completo.
Passos delicados sobem os degraus da escada.
O aroma da colônia chega antecipado,abrindo alas à musa que o retém nos poros.
A porta escancara-se.
Uma rajada brusca de vento,insinua-se deixando à mostra boa parte das bem torneadas pernas da senhorita K.
Esta,um tanto ruborizada,com uma das mãos ajeita o tecido muito leve do vestido enquanto , com a outra ,segura a garrafinha de “7 UP”,geladíssimo ! Que ingere através de um canudinho.
Um luxo!
Todo “elegante” da época que se prezasse,bebia “7 UP”.Mais ainda ,com o apelo comercial do senhor Mario Vendramel e suas “Vendrametes”,nas tardes de sábado pela TV Paranaense canal 12.
Os mais chucros,(tipo eu) pediam ao atendente: Meu chapa ! Me dê um “sete upe”. Já os refinados (nos dias de hoje diria-se: "Da zelite ") cheios de caras e bocas pronunciavam com a voz nasalada. “Um sévenápe” por obséquio ! Enfim...
A visão estonteante da moça animou o técnico em máquinas de escritório que num tom efusivo,galanteador e com ligeiro teor libidinoso, num ímpeto proferiu:
_Senhorita K, como estás Vaporosa nesta tarde !?
Benza Deus... Oh! Va-po-ro-sa.
A moça, cujo “QI” era infinitamente oposto à grandiosidade de sua silhueta, reagiu de imediato:
-Mais respeito comigo Tatá !...Não sou “dessas “ não. Dobre a língua antes de falar besteiras sobre a minha pessoa, e...blá,blá,blá...blá...blá..blá.
(Coitado do Tatá se dobrasse a língua.Sem dobra-la já era complicado,imagina dobrando-a)
A "insultada" saiu rispidamente, fazendo beiçinhos e trancafiando-se numa das salas.
O pequeno grupo de estagiários, à quem os “QI” igualavam-se ao da ofendida, entreolhamo-nos e tomamos o rumo da saleta do café a fim de traçarmos estratégias em defesa da nossa mais nova colega de trabalho.
Tatá,que percebera nossa ingenuância (mistura de ingenuidade e ignorância),aproveitara para “deitar e rolar”.Ouvíámos o eco de suas risadas acompanhadas da palavra “Vaporosaaaaa!”,cujo termo nos indignava.
Não satisfeito,começou a bradar :
_Vaporosa,sim senhora!...E digo mais: “Diáfana!” também.
Aí a coisa ficou preta.Um dos integrantes queria quebrar a cara de Tatá , faze-lo engolir goela à baixo tamanhas ofensas à nossa amiga.Foi preciso conte-lo e a turma do deixa disso entrou em ação.
Como que fora um espírito da sensatez agindo para esclarecer a ignorância coletiva,um dicionário despencara de um dos armários onde imperava uma desordem generalizada. Um dos exaltados teve a feliz idéia de pesquisa-lo para verificar a profundidade dos “impropérios” de Tatá.
Caímos do cavalo, literalmente,quando descobrimos o real significado das duas palavras,que nada mais eram que elogiosa constatação da exuberância, frescor e delicadeza da bela da tarde.
Juntamo-nos à ela e ,depois de tudo esclarecido,vislumbramos em mínimos detalhes a sensualidade daquela boca sorvendo calmamente os resquícios do seu “7 UP”.
O vento espargia seu perfume, seus cabelos e quiçá ! ...Seus pensamentos mais íntimos na sacada do prédio apreciando o trem que cruzava em frente.
Nossos olhares masculinos , púberes,cruzavam-se enquanto engolíamos a sêco o desejo de gritar ao mundo:
VAPOROSA !!!... DIÁFANA!!!...
(Tatá tinha razão rsrs...)
Joel Gomes Teixeira