Dedicado a Roberto Gonçalves
Filósofo Clínico
Escritor
Sentimentos não são nada de único, nada de original; por trás deles estão juízos e valorações, que nos são legados na forma de sentimentos.
Confiar nos sentimentos significa obedecer mais a terceiros do que aos deuses que se acham em nós: nossa razão e nossa experiência.
(Friedrich Nietzsche em: Aurora)
A partir dessa citação podemos interrogar: o sentimento nos é legado por quem? E os valores que são julgados através dos sentimentos, são eles que modelam as nossas condutas sociais ou adquirimos apenas aqueles que nos convêm?
Nietzsche questiona sobre os sentimentos que vêm de um juízo falso, pois apesar da ética ser inerente a condição da vida humana; se os valores provenientes do meio social e da família nuclear (família raiz), são distorcidos, então temos que fazer correções no nosso modo de agir, pois para o exercício da ética é necessário a sociabilidade.
Como saber se estamos certos ou errados? Como confiar em nossos deuses (razão e experiência)?
Somos seres mortais em condições de finitude e isso pontua em nós o que existe de imperfeição, o que nos remete ao outro como condição fundamental de tornar as nossas ações universais no sentido ético. Ou seja, o acordo de outros (que detêm seus próprios valores) para nossas ações, nos fazem sentir como “senhores de ações corretas” e isso nos dá a sensação de deuses.
Os sentimentos em nós existentes tornam-se herança modificada, mas nunca algo inteiramente novo. Ocorre uma mistura de sentimentos regidos por princípios gerais, pelo senso moral, enfim pela consciência moral, formando então a nossa vida intersubjetiva.
A plenitude dessa conscientização será alcançada pelo exercício da razão.
Pela definição: “A razão é o desejo de ser”, como sujeito moral.
A ética sendo o espelho do que ocorre na nossa maneira de ser, espelha também a razão e passa a ser o exercício da mesma.
Concluímos que trabalhar valores, trabalhar sentimentos que se originam nos juízos, é trabalhar a vivência subjetiva dos valores (culpa, vergonha, indignação, etc.) em prol de uma intenção de vida boa e do dever para com os outros de acordo com nós mesmos, com os valores herdados e internalizados, mas transformados ao longo do tempo, como seres éticos. Aí sim, podemos confiar em nossos sentimentos.
A educação de sentimentos passa pelo encontro com outros sendo muito importante o cultivo da amizade. “O amigo é aquele que se interessa pela minha alma” (Karl Jespers).