Peleja do aposentado contra o dragão de papel
Recém-premiado em edital da Prefeitura de João Pessoa com patrocínio de publicação do meu livro “Laranja romã”, procurei uma agência do Banco do Brasil para abrir conta específica do projeto da Fundação de Cultural de João Pessoa – Funjope. A senhora funcionária pediu um comprovante de rendimento de aposentado. O sistema de informação da Previdência Social na internet deixou de funcionar, ou criou tantas dificuldades de acesso que você terá que contratar um hacker. Peguei extrato de minha conta numa agência da Caixa Econômica Federal, onde recebo o que restou de minha contribuição previdenciária de 25 anos. A senhora do Banco do Brasil não aceitou o extrato como comprovante de rendimento, e ainda comunicou que, pela vontade do Sistema, o contrato da Prefeitura com Fábio Mozart foi assinado em 2017, portanto inválido para 2018.
Fui em outra agência, com comprovante de rendimento fornecido pela própria Caixa Econômica Federal, depois de perder horas do meu sagrado ócio de aposentadoria por tempo de escravidão. A mocinha sentia muito, mas o “Sistema” não aceita o documento da Caixa. Só admite extrato de pagamento de aposentadoria originário do computador. Em obediência ao “Sistema”, fui numa agência do próprio Instituto Nacional de Previdência Social e peguei extrato de pagamento. O “Sistema” indagou: “qual a parte de ‘só aceitamos se for pelo portal do INSS’ que você não entendeu, seu panaca?” Pedi para falar com o gerente. A mocinha me faz saber que não ia adiantar, que o “Sistema” era o vilão da história, que essa maldosa entidade não existia em parte alguma e estava em todo lugar, como o próprio Satanás, exigindo fidelidade e devoção.
Vamos confessar e admitir: todos somos idiotas, mas até um tolo como Fábio Mozart sabe que essa burocracia com suas regras e procedimentos, além de infernizar a vida dos cidadãos, tem outros propósitos. No caso do Banco do Brasil e a conta que não pode ser aberta porque desconfiam que sou um falso aposentado, talvez tenha algo tipo “não vamos perder tempo com contas sem perspectiva de retorno positivo de rendimentos”.
Bem, ainda não desisti. Vou tentar outras agências, de repente pego o “Sistema” desprevenido em uma tarde de sexta-feira, o gerente pensando no barzinho com sua cervejinha no ponto. Pedirei por tudo que é decente e sagrado, prometerei votar no candidato do gerente, entrarei em filas erradas e até fingirei ser uma potencial vítima da usura oficial. Danado vai ser quando a mocinha informar, com cara impassível: “O senhor só poderá abrir esta conta aos 85 anos ou quando ficar impotente, o que vier primeiro.”