SER HUMANO: UMA FIGURINHA IMENSURÁVEL
Vamos refletir rapidamente sobre essa figurinha tão emblemática que é o ser humano. Desde que ele pisou na história pela primeira vez, seja pelo mito, seja pela ciência, sempre procurou conhecer-se e desvendar-se.
Esta visão filosófica recebeu da história o nome de personalismo. Também os teólogos se ocupam do tema para se referirem a Cristo, em sua pessoa divina e humana. Psicólogos, educadores, políticos, juristas, além de outros se dedicaram ao exame da pessoa humana.
Se partirmos da filosofia grega, o conceito de pessoa é um tanto estranho, pois em grego falta até mesmo o termo para designar pessoa. Persona é uma palavra da língua latina, a qual até o começo do cristianismo designava máscara que ampliava a voz do ator para comunicar-se com o público. Acredita-se que o termo foi introduzido por Sêneca, sob o qual o termo não perdeu seu significado. O conceito de pessoa acentua o singular, o indivíduo, o concreto; já na filosofia grega assume um papel universal e abstrato.
A revelação cristã vem trazer um valor mais absoluto ao indivíduo. A patrística e a escolástica empreenderam uma análise racional e aprofundada acerca do indivíduo que tomou uma roupagem filosófica sólida, sobretudo após as disputas teológicas sobre a Trindade e Encarnação para as quais a solução requisitou uma formulação exata do conceito de pessoa.
Agostinho por certo teve a intenção de encontrar um termo que pudesse aplicar ao Pai, Filho e Espírito Santo sem deles fazer deuses distintos e não dissolver a sua individualidade. O que Agostinho queria era um termo para designar algo de singular e individual. Para o filósofo Boécio, a pessoa é uma substância individual de natureza racional. Tomás de Aquino que afirma o termo pessoa e designa o que há de mais nobre no universo e que subsiste de uma natureza racional.
A personalidade não pode ser associada a outras realidades por ser completa em si mesmo. Daí que quando um ato de “ser” proporcionada a certa essência particular a faz existir em si e por si, por isso mesmo é muda e incomunicável. Em Descartes, surge um novo conceito de pessoa relacionada à autoconsciência, onde o ser humano tem garantia de existir já que pensa a si mesmo; assim garante que o ele é uma pessoa e afirma que é dotado de autoconsciência.
Leipzig afirma que o conceito na antiguidade continua embrionário até o início da era cristã. O ser humano antigo era absorvido pela cidade e pela família, submetido a um destino cego, sem nome, superior aos próprios deuses. Garaudy diz que o cristianismo criou uma nova dimensão da pessoa humana. Nem os padres gregos eram capazes de achar na filosofia grega categorias e palavras para a nova realidade.
A pessoa em Kant designa os seres racionais com os fins racionais em si mesmos. De um modo geral, após Descartes nomes como Hume, Fichte, Hegel, Royce, Gentile e Sartre empreenderam estudos profundos acerca da pessoa humana. Vê-se nesses certa preocupação intelectualista que reduziu a pessoa humana ao contexto do pensamento, em contrapartida houve pensadores que lutaram contra tais posições, entre os quais foram citados Mounier, Scheler, Buber, Marcel, Heidegger e outros.
O Charles Renouvier que criou o termo pessoa e daí o movimento personalista, abriu uma visão concreta e individual do ser humano, a qual fosse aberta para o mundo e para o absoluto, levando a pessoa a reconhecer a existência criadora, pois um mundo existente por si, eterno, não passa de um mundo que não possa dar razão a si mesmo.
Heidegger empreende um estudo excepcional sobre o ser humano. Para ele, a pessoa é um ser-aqui, um ser sistematicamente fora de si mesmo, sua essência se encontra na transcendência.
De um modo geral, a antropologia de Heidegger caracteriza-se pela superação da oposição entre sujeito e objeto, pois o ser humano é um indivíduo enquanto antológico e primordial. À medida que ele toma consciência de suas possibilidades, e as traduz em atos, inclusive a morte. Seu traço mais característico é a autotranscendência, ou seja, a dimensão da personalidade que consiste na realização dos mais elevados ideais pessoais.
É isso aí!
Acácio Nunes