Carmim

Breve explicação aparentemente desnecessária por que ninguém vai ligar mesmo pra isso (mas prefiro assim) O trabalho como Designer tem tirado-me muito o tempo e me recompensado com noites de sonos mais longas, uma vez que tenho dormido muito cedo.. Então Não houve publicação recentemente... De modo que isso incomoda-me um pouco. Sendo assim, irei policiar-me daqui em diante. Quero fazer sim desse espaço algo intimista, intrapessoal e ao mesmo tempo um expositor de ideias e fragmentos sentimentais.... Aproveitem a crônica. Boa leitura.

Sua pele logo se arrepiou assim que o metal frio beijou-lhe a têmpora por breves segundos.

Domingo, meio dia, da janela, frestas invadiam o quarto abafado. A luz solar era pouca e disso sentia falta. Era sempre motivo de reclamação e falácia pelos cantos. Afinal, gostava de sentir durante os seus dias de ócio os quentes raios lhe bater na pele em seu repouso discreto. Sentia falta daquilo porquê lhe parecia ser motivo de felicidade.

O sol era isso, representação, era vida, era morte, era o novo e o velho de um ciclo infinito. Pairava no ar uma música tranquila, cadenciada, quase trilha sonora cinematográfica para aquele momento. Talvez, se pudesse filmar aquilo, não haveria muita diferença se comparado aos filmes indie que costumava ver, talvez um filme francês. O rapaz em seu quarto, a janela aberta dando-lhe um panorama aprofundado de suas vistas até os limites da cidade pequena...

Infelizmente, não teria o fim divertido ou romântico que tanto conhecia. Não acabaria em beijos... Ajoelhou, era quase orante, sua postura serena, a candura em seu semblante perfilado, a respiração uniforme arfando seu peito magro, seus olhos negros selados por finas pálpebras... Ergueu a mão em um movimento teatral, exagerado... O beijo frio voltou à sua fronte. Sorriu para a figura invisível que só existia no fundo de sua mente e memórias.

Como fogos de artifício, “pipocou” abafado. As fagulhas em seus olhos de rapaz e o cheiro de pólvora (agora incrustrado nos céus que era aquele teto branco) característico desses momentos alegres. Uma explosão de felicidade representada rapidamente por um breve trastejar de emoção. Sua alma agora era ressoante, tudo parecia um grande e belo harmônico, desses que se pode tirar de uma guitarra muito bem afinada.

Carmim...

A parede fora pintada de um belo e vivo carmim... Era uma cor tão alegre... Fez-se então reticências em meio a tarde, quando seu corpo agora sonolento (eterno) se projetou para frente precipitando-se ao cálido piso de cerâmica. Os aplausos se fizeram em sua mente. Alguém veio lhe receber à porta, uma grande e bela porta. A luz era intensa, a pequena silhueta recortada contra a enérgica e branca luz estendeu-lhe as mãos, como se aquilo pudesse lhe dá conforto, como um animal espera o afago de seu dono na volta para casa.

Fim de tarde dominical... Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo... Tem piedade do carmim derramado...

Findou os fogos, findou a música. Findou a vida...